26 de janeiro de 2011

Entre desencontros e reencontros

“Todos temos a difícil tarefa de lidar com amarguras em relação às atitudes de pessoas.”
Um dos maiores desafios que enfrentamos na manutenção de nossa saúde física, emocional e espiritual reside na forma como lidamos com os ressentimentos gerados pelos desencontros em nossas relações interpessoais. Em algum momento de nossa trajetória, todos nós nos deparamos com a difícil tarefa de lidar com as amarguras em relação às atitudes e palavras de pessoas que, consciente ou inconscientemente, nos feriram ou decepcionaram.
No evangelho de Mateus, Jesus inicia uma sessão de ensinamentos com a seguinte frase: “Se o seu irmão pecar contra você (…)”. Diante do que é colocado, Pedro levanta uma palpitante questão: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim?” Jesus responde de forma enigmática, dizendo que não deveria fazê-lo somente sete vezes, mas sim, “setenta vezes sete”, conforme Mateus 18.21-22. Dando continuidade ao raciocínio, o Mestre conta a história do rei que, diante da oportunidade de acertar contas com seus servos, optou por cancelar suas dívidas e deixá-los ir.
É interessante que a primeira preocupação que nos ocorre ao lermos este trecho é qual seria o significado da frase “setenta vezes sete”. Isso muitas vezes desvia a nossa atenção de alguns outros elementos bem mais importantes no texto. Um deles é o fato de que este conjunto de ensinamentos trata dos desencontros entre “irmãos” e “conservos”. Logo, nosso questionamento deveria ser identificar quem é esse irmão, a quem devemos perdoar, ou quem é o conservo cuja dívida devemos cancelar. Eles certamente não serão pessoas desconhecidas, aquela gente que simplesmente encontramos na fila do banco ou no ponto de ônibus. Tais termos referem-se a pessoas que têm compartilhado conosco de uma jornada mais constante, andando lado a lado numa caminhada de fé e na construção de uma relação de amizade.
Justamente por isso, somos levados à constatação de três grandes problemas em nosso relacionamento com aqueles que nos são como irmãos ou conservos. O primeiro deles é que nossa maior dificuldade não é lidar com desencontros ocorridos com estranhos. O sofrimento e a crise se instalam de forma dolorosa e complexa quando o relacionamento com gente que compartilha de nossas vidas é abalado. O segundo problema diz respeito ao idealismo que criamos em torno dessas pessoas que nos são próximas. É uma expectativa irreal pensarmos que gente que compreende o Evangelho e se rende a Jesus como Salvador e Senhor não está sujeita a sentimentos de inveja, ciúmes, rancor ou inimizade. Daí nossa decepção quando o relacionamento com alguém assim é abalado.
O terceiro problema aponta para a forma como trabalhamos esses nossos relacionamentos. Sempre atribuímos maior valor à última atitude ou palavra, sem levarmos em conta todas as atitudes e palavras que construíram a história daquela relação. Em outras palavras, não importam todos os depósitos que foram feitos ao longo das experiências vividas; diante do desencontro, agimos como se nosso irmão ou conservo não tivesse qualquer saldo em nossas vidas. Em qualquer destas situações, a solução é sempre abrir mão do orgulho, reconhecendo o valor dessas pessoas para nossas vidas e histórias, redimensionando nossas expectativas em relação a elas e levando em conta tudo de bom que construiu nossa história mútua, e que não pode ser desprezado em função de um erro fortuito.
Mas o que Jesus quis nos ensinar com essa história? Primeiramente, que nós somos como o servo que não tinha como quitar a dívida com seu senhor. Deus é o rei que optou por cancelar nossas contas e deixar-nos ir, salvos e justificados. Logo, existem momentos que somente a consciência de quem somos diante de Deus pode nos dar a humildade suficiente para lidarmos com graça com nosso irmão ou conservo ofensor.
Em segundo lugar, a história nos ensina que perdoar não é um sentimento que brota espontaneamente dentro de nós. O perdão é uma decisão que tomamos de assumir os prejuízos gerados pelo ofensor, abrindo mão de toda e qualquer cobrança. Ao perdoar o devedor, aquele rei não estava dizendo que não existia de fato uma dívida, mas sim, que ele resolvera abrir mão do que lhe era devido. Ou seja, ele assumiu o prejuízo e liberou o outro de qualquer cobrança. E, muitas vezes, o perdão não consiste em um mero ato, mas em um processo – mesmo depois de tomarmos a decisão de cancelar as contas, somos surpreendidos por sentimentos que voltam a nos assaltar e nos impulsionar à demanda por justiça. Diante deles, precisamos renovar nossa decisão pelo perdão.
Agindo dessa forma, nossos desencontros serão movidos na direção de reencontros. Debaixo dos olhos do Pai Celeste, que tanto nos tem perdoado, somos motivados a fazer o mesmo com o irmão que pecou contra nós ou com o conservo que nos deve. Movidos pela graça que nos alcançou, somos capazes de derramá-la sobre aqueles que nos feriram ou decepcionaram.

                                                                                                                                           Ricardo Agreste

21 de janeiro de 2011

A igreja e a serra elétrica - Valdemar Figueredo

Podemos ser uma igreja que atua de forma artesanal ou industrial.
Vistei uma árvore caída na rua. As raízes romperam o duro concreto da calçada e ela tombou – o que antes fora um enorme ser vivo, agora era um toco agonizante. Abatida e torcida, a árvore parecia gemer com suas fraturas expostas. Continuei andando pensando o seguinte: uma coisa é derrubar uma árvore com machado, e outra, bem diferente, é abatê-las com serra elétrica. A natureza se recompõe e se renova. Não podemos dizer que o lenhador seja um agressor, que por capricho e raiva abate as pobres árvores. No entanto – pensava eu enquanto andava –, o mesmo não podemos falar daqueles que derrubam árvores com potentes serras elétricas. As grandes derrubadas para atender às demandas industriais, à primeira vista, parecem que são mais velozes do que a natureza no seu esforço para se recompor.
É claro que estes pensamentos me ocorreram e eu não tinha a menor pretensão de sistematizá-los, ou sequer de que fossem coerentes. Simplesmente estava pensando enquanto andava, até que encontrei um pastor que estava à porta do templo esperando outros colegas para uma reunião de oração. Ele me disse que regularmente um grupo pequeno de pastores se reúne ali para orar e pensar no que chamou de “ferramentas adequadas” para a construção dos seus ministérios. Foi neste instante que falou algo que me intrigou: “Nós podemos realizar o ministério com várias ferramentas. Podemos usar um serrote ou podemos usar uma serra elétrica. Onde estamos e o que queremos é que vai determinar o tipo de instrumento que queremos usar.”
Tomei um susto quando ele disse aquilo. Parecia que o diálogo não era com o que eu lhe falava, mas com o que eu pensava. Por uns instantes, fiquei calado, sem saber o que representava aquela coincidência. Os outros pastores chegaram e o diálogo sobre ferramentas ministeriais terminou sem que eu dissesse nada sobre o que vinha pensando acerca de machados e serras elétricas desde que vira aquela árvore tombada na rua.
A primeira coisa que me veio à mente foi a de que podemos optar por ser uma igreja que produz em escala industrial. Óbvio que, para conseguir esse objetivo, é necessário se ajustar aos procedimentos típicos de uma indústria. Numa igreja com esta ênfase, tempo é dinheiro, templo é a marca, a eficiência é tudo, a mídia é o padrão e as pessoas são números. Convenhamos que uma igreja que assim se organiza e produz está adequadamente afinada com o espírito da nossa época. Em outras palavras, podemos ser uma igreja com “serra elétrica”, que só atua pensando na produção em larga escala e aceita os desafios hoje impostos pelo mercado religioso.
Já uma igreja que entende que seu trabalho não pode ser generalizado e impessoal prefere talhar o caráter de seus membros. Para isso, o trabalho tem que ser artesanal. Peça por peça, vida por vida. As particularidades de cada um não são chamadas de exceções. Para quem tem a missão de formar pessoas usando como modelo o próprio Jesus Cristo, não há pressa. Estamos falando de uma igreja comunitária, onde vínculos profundos se formam. Nesta igreja, tempo é partilha, templo é aconchego e discipulado é a pérola de grande valor. As pessoas ali sabem que Deus as conhece pelo nome e as ama – daí porque a igreja por elas se interessa, pretendendo também conhecê-las e amá-las. Uma igreja artesanal lida com a complexidade humana, sem simplificações dos jargões religiosos e sem as malandragens da linguagem de um marketing viciado e agressivo.
Devemos promover um ministério marcadamente artesanal, onde cada um ponha a mão na parte que lhe cabe, definida pelo Espírito Santo, para a execução daquilo que Deus define como tarefa nossa neste tempo. Queremos e devemos produzir, construir, edificar, mas sem causar males à natureza do Evangelho e às pessoas. O que há de nos pautar é o caráter de Cristo e não o espírito mercantilista de nosso tempo. É notório que igrejas que caem na tentação de atuar com serra elétrica padecem pelos seus próprios descaminhos: conseguem visibilidade, mas anunciam com seus discursos práticas e alianças que renunciam ao essencial para não perder o emergencial.
Que rumo o Senhor quer que tomemos? As respostas que a igreja de Antioquia encontrou, mencionadas em Atos 13, podem nos ajudar. Ali havia profetas e mestres – e ambos os ministérios esmeram-se por entender e compartilhar a palavra de Deus. Profetas anunciam coisas novas, convidam aos rompimentos, estimulam, inquietam, provocam, confrontam. A voz profética é, sobretudo, uma voz que lembra aos esquecidos o rumo apontado e determinado por Deus. E o Senhor não está retido no passado distante. Deus fala, e fala ao homem de hoje. Quanto aos mestres, esses ensinam apontando para a revelação de Deus e o fazem com a própria vida. O verdadeiro mestre é aquele que experimenta o conteúdo do que ensina.

Que haja entre nós a voz de Deus que anuncia as coisas novas e a voz de Deus que não nos deixa esquecer da sua revelação ao longo da história.

15 de janeiro de 2011

NADA ALÉM DE DEVOÇÃO




Novos estudos rechaçam a tese de que Maria Madalena teria sido mulher de Jesus.
Por Carlos Fernandes
Desde O código da Vinci, polêmico livro de Dan Brown lançado em 2004, a memória de Maria Madalena não teve mais sossego. Apontada como amante de Jesus Cristo na obra ficcional, a discípula, que era uma de suas mais próximas seguidoras – segundo o Novo Testamento, ela esteve com ele ao pé da cruz e foi uma das primeiras a testemunhar a ressurreição do Mestre – já “ganhou” até filhos no imaginário literário. E o pai, especulam, teria sido ninguém menos que o Filho de Deus. Embora não haja qualquer indício bíblico de que os dois tenham tido qualquer proximidade amorosa, tais suposições, que já vêm de muitos séculos, ganharam corpo nos últimos anos, através do estudo de textos apócrifos, e foram alimentadas por uma boa dose de imaginação, interesses e conflitos entre organizações religiosas.
Pois agora especialistas nas Escrituras têm trazido a público novos elementos capazes de refutar definitivamente a tese do romance. “Os textos que mencionam esse tipo de envolvimento entre Madalena e Jesus foram escritos pelo menos 100 anos depois dos evangelhos bíblicos”, aponta Ben Witherington III, especialista em Novo Testamento do Seminário Teológico Asbury, nos Estados Unidos. E a intenção de tais autores seria justamente combater visões mais ortodoxas do Cristianismo, então em fase de franca expansão. A maioria dessas fontes foi escrita em grego ou em copta, língua egípcia falada durante o período romano.
Uma das mais conhecidas é O Evangelho de Filipe, escrito extra-bíblico provavelmente compilado no século 3 da Era Cristã – portanto, não escrito por nenhum contemporâneo de Jesus – e que fala até em beijos entre o suposto casal. Todos esses textos compartilham a teologia gnóstica, baseada numa espécie de revelação secreta e esotérica. Com isso, Maria Madalena passou a ser usada pelos gnósticos como um símbolo do “conhecimento verdadeiro” que teriam de Jesus, e como a verdadeira predileta de Cristo, da qual eles seriam seguidores. Esse aspecto polêmico e tardio de tais textos torna bastante improvável que haja em seu conteúdo alguma memória histórica envolvendo a Madalena real. Inclusive, o gnosticismo era combatido pela comunidade do Cristianismo, que seguia os ensinos de apóstolos como Pedro e Paulo.

“Pesquisas sem seriedade” – Mas quem foi Maria Madalena? Além do que se diz dela na Bíblia, particularmente no evangelho de Lucas, a tradição afirma que, devido ao nome por que era conhecida (Magdalini, em grego), ela provinha de Magdala, vilarejo de pescadores a noroeste do Mar da Galiléia. Provavelmente, começou a seguir Jesus depois que ele expulsou dela sete demônios – fato que, segundo os historiadores, colaborou para disseminar sua imagem de “pecadora arrependida”. Ao contrário de muitos rabis de seu tempo, Jesus era seguido também por mulheres. “Duas das qualidades extraordinárias de Jesus são o fato de que ele recrutava seguidores de ambos os sexos”, continua Witherington. Além de Madalena, havia Maria, mãe de Jesus; outra Maria, mãe de Tiago; Maria de Betânia, irmã da Marta e Lázaro; além de Joana, Suzana e outras. Contudo, é fantasioso imaginar que alguma delas tenha tido papel de destaque em seu ministério.
Todavia, a cultura judaica da época impedia que as mulheres ensinassem ou mesmo falassem em público. É certo que o grupo feminino acompanhava a comitiva para suprir necessidades básicas como alimentação e abrigo, inclusive com seus bens. O fato seria considerado escandaloso pelos judeus do século I, para quem as mulheres deveriam ficar em casa com seus maridos e, quando viajassem, teriam de ser acompanhadas por parentes do sexo masculino. Daí teriam surgido as insinuações de uma relação mais próxima entre Jesus e a mulher de Magdala – hipótese rechaçada pelo padre John P. Meier, professor da Universidade de Notre Dame, em Indiana (EUA) e autor dos livros da série Um Judeu Marginal: “Embora o Novo Testamento cite claramente a família de Jesus, como seus pais e irmãos, não há nenhuma referência de que ele tenha tido filhos ou mesmo se casado”, lembra, embora o casamento fosse considerado quase uma obrigação religiosa no primeiro século. Para Meier, Jesus manteve-se celibatário como sinal do compromisso exigido por sua missão.
A historiadora e arqueóloga Fernanda de Camargo-Moro, autora do livro Arqueologia de Madalena (Editora Record), lembra que as mulheres de então eram conhecidas pelo parentesco com alguma outra pessoa – normalmente, o marido, cujo nome era associado ao delas. “É possível até que ela nem tenha se casado com ninguém, já que sua alcunha é uma mera referência ao lugar onde nasceu”, opina. “Concluir que Maria Madalena era casada com Jesus é resultado de pesquisas superficiais e sem seriedade”, conclui.

13 de janeiro de 2011

A SOBERANIA DE DEUS E O EVANGELISMO - Dr. Richard Belcher


INTRODUÇÃO: Deus é soberano e o homem é responsável! Isto é um mistério quanto aos detalhes no seu entrelaçamento. Quanto a Salvação dos homens existe aqueles que acreditam que ela é sinérgica, isto é, a que ela ocorre através da ação de pelo menos duas forças na salvação. E há outros, como nós, que acreditam que a salvação é monergismo, isto é, ela ocorre através da ação de uma única força apenas, a saber: a de Deus.

“Se Deus é soberano na nossa salvação por que devemos evangelizar os perdidos?”

I.                    DEVEMOS EVANGELIZAR A TODOS, EMBORA DEUS SEJA SOBERANO NA NOSSA SALVAÇÃO PORQUE ELE ORDENOU.


II.                  DEVEMOS EVANGELIZAR A TODOS, EMBORA DEUS SEJA SOBERANO NA NOSSA SALVAÇÃO PORQUE ESTE É O MEIO ORDENADO QUE ELE USA PARA SALVAR OS HOMENS.


III.               DEVEMOS EVANGELIZAR A TODOS, EMBORA DEUS SEJA SOBERANO NA NOSSA SALVAÇÃO PORQUE NÓS NÃO SABEMOS QUEM SÃO OS ELEITOS DE DEUS.


IV.                DEVEMOS EVANGELIZAR A TODOS, EMBORA DEUS SEJA SOBERANO NA NOSSA SALVAÇÃO PORQUE SEUS ELEITOS VÊM DE TODA TRIBO, LÍNGUA, RAÇA E NAÇÃO.


V.                  FINALMENTE, DEVEMOS EVANGELIZAR A TODOS, EMBORA DEUS SEJA SOBERANO NA NOSSA SALVAÇÃO PORQUE A EVANGELIZAÇÃO TRAZ GLÓRIA PARA DEUS.


CONCLUSÃO: Concluímos, pois, com a certeza de que Deus escolheu os fins e os meios para que os homens fossem salvos e que nós somos instrumentos em suas mãos para a salvação de quem Ele mesmo deseja salvar por sua graça soberana.

DESAFIO PRÁTICO: VOCÊ É RESPONSÁVEL PELA PREGAÇÃO DO EVANGELHO AOS PERDIDOS E ISTO TRAZ GLÓRIA A DEUS. PENSE NISTO!!
Adaptações do pr. Almir Cruz

4 de janeiro de 2011

John Wesley e o dinheiro – parte 2

Poucos sabem que Wesley ganhou somas elevadas na pregação e que a venda de suas obras o tornou um dos homens mais ricos da Inglaterra.

A maioria das pessoas sabe que João Wesley foi usado por Deus no reavivamento que deu origem à igreja Metodista, na Inglaterra do século 18. Sabemos que era grande pregador e possuía o dom da organização. Lembramos dele pela contribuição ao pensamento da igreja sobre santificação. Mas poucos sabem que Wesley ganhou somas elevadas na pregação e que a venda de suas obras o tornou um dos homens mais ricos da Inglaterra. Não é surpresa, então, saber que ele tinha opiniões bem firmadas sobre o papel das questões financeiras na vida cristã. O pregador “rico” tem muito a dizer sobre o dinheiro.
Por que o reavivamento está demorando?
No fim da vida, Wesley ficou desanimado com o metodismo. Embora tivesse visto o movimento começar com dois irmãos e chegar a uma sociedade de quase um milhão de pessoas, sentia que o grupo perdera muito do poder espiritual. Acreditava que os metodistas não tinham fome e sede de justiça como no início. Notou que não ansiavam pelos cultos das 5 horas da manhã como antes. Temia que os seguidores tivessem perdido grande parte do amor ao próximo, pois via que não estavam mais tão prontos a visitar os enfermos e necessitados. Convenceu-se de que esse declínio do amor a Deus e ao próximo havia ofendido o Espírito Santo de Deus, que se afastara deles. Temia que o trabalho de toda sua vida tivesse sido em vão.
Além de achar que Deus havia abandonado os metodistas, Wesley acreditava saber a causa: um pecado específico os levara a perder o primeiro amor e os afastara de Deus. Wesley afirmou que não havia um metodista em cada cem que obedecesse a Deus nesse aspecto. Reclamou que ninguém mais pregava contra esse pecado e, no fim da vida, pregou muito contra ele. Nos três últimos anos de sua vida, publicou tantos sermões denunciando esse pecado quanto havia publicado nos cinqüenta anos anteriores. Naquele que acreditava que seria seu último sermão, censurou seus seguidores pela desobediência ao Senhor nessa área. Chegou a dizer aos metodistas de Dublin que eles tinham responsabilidade pessoal pelo declínio do metodismo. “Vocês são alguns dos principais homens que ofendem continuamente o Espírito Santo de Deus e, em grande medida, impedem que sua influência cheia de graça caia sobre nossas reuniões”.
O que os homens de Dublin haviam feito para merecer tal repreensão? Qual foi o crime dos metodistas de Londres, Manchester e Bristol, a quem Wesley condenou? Qual o pecado que o convenceu de que Deus os havia abandonado e que ele considerava estar impedindo o avivamento?
O amor ao dinheiro

Wesley notou que no início do metodismo as pessoas eram pobres. Porém, observou que nos 20, 30 ou 40 anos desde que se uniram ao movimento, muitos se tornaram 20, 30 e até 100 vezes mais ricos. Com o aumento da riqueza diminuíra a santidade. Aos olhos dele, quanto mais dinheiro os metodistas tinham, menos amavam ao Senhor.
Wesley notou várias manifestações de diminuição da piedade nos metodistas. A primeira foi o enfraquecimento do amor a Deus, demonstrado pela falta de interesse na santificação. Disse que não tinham mais “o mesmo desejo intenso de antes para ‘prosseguir para a perfeição’”. A segunda manifestação foi orgulho. Wesley advertiu seus seguidores de que a crescente riqueza os deixara arrogantes. Passaram a confiar mais em suas próprias opiniões e se tornaram menos dispostos a ouvir reprovações: “Vocês não são mais dispostos a aprender como eram... possuem opinião muito superior sobre seu próprio discernimento e se apegam mais à sua própria vontade” (trechos do sermão Causas da ineficácia do Cristianismo).
Outro sinal do retrocesso era que os metodistas não eram mais tão mansos. No passado, Wesley havia dito: “seu amor não foi forçado, mas os capacitou a vencerem o mal com o bem em todas as ocasiões”. Mas agora: “Como vocês se irritam depressa!”. A indicação seguinte da morte espiritual era a falta de prontidão para ajudar os pobres. Wesley fez os ouvintes recordarem: “Naquela época vocês se apressavam – sob frio, chuva, ou qualquer empecilho que cruzasse seu caminho – para ver os pobres, os doentes, os aflitos”. Agora, entretanto, ele pergunta: “Você não tem medo de estragar seu casaco de seda?... Não tem medo de pegar piolho?”.
A última prova de como os metodistas haviam decaído era a negligência no evangelismo pessoal. Wesley agora se via forçado a perguntar a seguidores que antes conversavam espontaneamente com as pessoas sobre a situação da alma: “Mas qual de vocês possui agora aquela compaixão pelos ignorantes e pelos que se encontram fora do caminho? Eles podem vagar e mergulhar no lago de fogo sem que vocês se importem nem impeçam. Antes Deus possuía o coração de vocês”
·.
Uma palavra que Wesley detestava

Em geral, pensamos que Wesley não detestava nada. Ele é aquele que sempre pregava sobre amor a Deus e ao próximo. Chegou a ensinar que o amor de Deus pode encher tanto o coração das pessoas que elas se tornam capazes de amar a Ele e ao próximo com perfeição. Mas havia uma expressão que ele detestava e dizia que era “indolente”, “absurda”, “estúpida”, “miserável”, “vil” e “diabólica”. Afirmou que ela era “a própria linguagem do inferno”. Obviamente, nenhum cristão deveria jamais usá-la. Essa expressão terrivelmente maligna era “posso pagar”.
Wesley pregava contra a extravagância na alimentação, nas roupas ou no estilo de vida e o metodista respondia: “Mas eu posso pagar”. Wesley afirmava que nenhum cristão podia pagar nada além das necessidades mínimas da vida e do trabalho. Baseava seu raciocínio em cinco pontos principais:

1. Deus é a fonte do dinheiro do cristão. Ninguém ganha dinheiro por sua própria esperteza ou por trabalhar muito. Deus é quem concede energia e inteligência. É a verdadeira fonte de toda riqueza. Wesley indagou a certos metodistas que acreditavam ter direito a um padrão de vida mais alto agora que podiam pagar por isso: “Quem lhe deu esse acréscimo de riqueza, ou (para falar da forma correta) quem lhe emprestou?” (trecho de Sobre o perigo do crescimento da riqueza).
2. Os cristãos têm de prestar contas ao Senhor pela forma como usaram o dinheiro. Wesley aconselhava as pessoas a sempre usarem o dinheiro com sabedoria, porque a qualquer hora poderiam ter de prestar contas ao Senhor pelo que haviam feito com a riqueza que Ele lhes dera. Como ninguém sabe quando a prestação de contas vai acontecer ninguém deve desperdiçar agora pretendendo compensar mais tarde. “Quanto tempo você ainda vai ficar aqui?”, perguntava Wesley aos que se sentiam livres para gastar consigo mesmos. “E se amanhã, ou hoje à noite, você for convocado a se levantar e partir, para prestar contas desse e de todos os seus outros talentos ao Juiz dos vivos e mortos?”
3. Os cristãos são depositários do dinheiro do Senhor. O dinheiro que Deus colocou em nossas mãos não é nosso, é dele. Não o possuímos, antes, somos agentes do Senhor para distribuir. Assim, não podemos usar como queremos, mas sim como ele orienta. Wesley relembrou essa verdade aos ouvintes perguntando: “Algum mordomo pode gastar o dinheiro do patrão para ser um viajante desocupado? Pode desperdiçar os bens do patrão? Algum servo pode gastar o dinheiro do Senhor de forma diferente daquela que o Senhor determinou?” (trecho de Causas da ineficácia do Cristianismo). 4. Deus dá dinheiro aos cristãos para que eles dêem aos que precisam. O propósito de Deus ao nos dar dinheiro é ajudarmos os pobres e necessitados. Usar conosco mesmos é roubar de Deus. Wesley confrontou alguns metodistas satisfeitos: “Vocês não sabem que Deus lhes confiou esse dinheiro (tudo que ultrapassar o necessário para sustentar a família) para alimentar os famintos, vestir os nus, ajudar os forasteiros, as viúvas e os órfãos; e, até onde for possível, aliviar as carências de toda a humanidade? Como vocês podem como ousam, roubar do Senhor, aplicando esse dinheiro em outros propósitos?” (trecho do sermão Sobre o perigo do crescimento da riqueza).5. Os cristãos não têm direito de comprar luxo para eles mesmos, assim como não podem jogar o dinheiro fora. Deus nos tornou depositários dos recursos dele para alimentarmos os famintos e vestirmos os nus em nome dele. Devemos transformar o dinheiro extra em roupa e alimento para os pobres. Assim como é errado estragar a comida e as roupas dos outros, assim também é errado gastar o dinheiro conosco mesmo em coisas de que não precisamos. Wesley falou: “Ninguém tem direito de jogar fora alimentos e roupas que lhe foram entregues para alimentar os famintos e vestir os nus”. Mas se estivermos mesmo decididos a gastar o dinheiro de Deus, Wesley defendia que era melhor jogar no mar do que gastar de forma extravagante. Pelo menos, quando jogado no mar, não prejudica ninguém, enquanto que usado conosco mesmos em gastos desnecessários envenena todos que vêem isso com “orgulho, vaidade, ira, luxúria, amor ao mundo e mil desejos tolos e prejudiciais” (trecho de Sobre a roupa).
Wesley sentia que o metodismo havia perdido o poder espiritual porque os metodistas haviam enriquecido. Pregou muitas vezes contra os pecados dos prósperos, como o desejo de alcançar riquezas e o uso errado do dinheiro. Censurou especificamente contra os excessos na comida, no vestuário e no estilo de vida. No entanto, não se limitou a condenar o emprego errado do dinheiro. Além disso, apresentou aos ouvintes orientações bíblicas claras sobre o jeito certo de usar os recursos financeiros.
“Embora seu estúdio não fosse exatamente a imagem da pobreza ascética, Wesley não levou a vida de abundância e luxos que se espera de um homem com sua renda e situação. Ele queria deixar apenas “meus livros depois que eu morrer...”.

O exemplo de Wesley

Wesley pregou uma riqueza de palavras sobre o dinheiro. Tinha muitas idéias sobre as aplicações certas e erradas dos recursos. E, sendo um dos homens de renda mais elevada na Inglaterra em sua época, teve oportunidade de praticar o que pregava. Muitos podiam ignorar seus sermões, mas ninguém podia ignorar a forma como ele usava o dinheiro que recebia. O que ele pregava com atos falava mais alto do que suas palavras.
Quando Wesley morreu, o único dinheiro que apareceu em seu testamento foi a grande variedade de moedas que encontraram com ele e em seus guardados. Havia doado a maior parte do dinheiro que ganhou em toda a sua vida. Como ele falou: “Não tenho como evitar deixar meus livros quando Deus me
chamar; mas em todos os outros aspectos, minhas próprias mãos executarão meu testamento”.
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