ALMIR DE
SOUZA CRUZ[1]
O IMPACTO DA
MODERNIDADE LIQUIDA NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES.
O IMPACTO DA MODERNIDADE LIQUIDA NA
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES.
São
Paulo, 2023.
RESUMO
Vivemos
tempos de profundas mudanças sociais. O erudito Michel Maffesoli chamou de
Pós-modernidade. Já o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, preferiu o termo
“modernidade liquida” para explicar estas mudanças rápidas em diversas áreas da
sociedade. Cada tempo histórico tem seus processos transicionais. Este é um
tempo de mudanças, mudanças rápidas. A liquidez social, segundo Bauman, tem
impactado diversas áreas da vida. Na educação, ela tem afetado alguns dos
principais atores do processo de aprendizagem, a saber: os professores e os
alunos. Ambos precisam aprender sempre porque as situações da vida líquida
requerem um contínuo processo de adequação e a velocidade das informações
requerem uma contínua adequação a novos conceitos, isto é, os educadores e
educandos precisam desenvolver cada vez mais a capacidade de aprender sempre,
ou seja, aprender para a vida toda.
Palavras-chave:
pós-modernidade. Modernidade liquida. Ensino-Aprendizagem. Bauman.
INTRODUÇÃO
A
pesquisa é relevante diante do fato que aborda a questão da aprendizagem na
Modernidade Líquida. Percebe-se que estamos diante de uma crise na educação em
virtude do processo histórico de transição num mundo cada vez mais “fluido e
liquidificado”, cada vez mais tecnológico. O mundo atual é um mundo de mudanças
rápidas que requerem uma adequação contínua diante destas mudanças velozes.
Deste modo, os atores do processo de aprendizagem devem estar prontos para o
processo de moldagem contínua neste mundo liquido. Neste artigo, portanto,
exploraremos o impacto da modernidade líquida na formação continuada de
professores. Abordaremos as mudanças ocorridas na sociedade em relação ao
conhecimento e à informação, a necessidade de atualização constante dos
professores e os desafios enfrentados na era líquida. Também discutiremos as
novas abordagens e ferramentas na formação continuada de professores.
Este artigo foi
desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas. Foram considerados e
utilizados em sua elaboração, livros e artigos de periódicos em língua
portuguesa que tratam aspectos que estão relacionados ao tema “Os impactos da
Modernidade Liquida na formação continuada de professores. Ou seja, o processo
de aprendizagem no contexto social conhecido na contemporaneidade como
“modernidade liquida”. Também, serão utilizados trabalhos escritos e divulgados
em sites da Internet que sejam relevantes sobre educação, ensino e cultura e
subjetividade na Modernidade Liquida.
1.1. As mudanças na sociedade em relação ao conhecimento e a
informação.
1.2. A vida na modernidade liquida.
Mudanças
sociais não são novidade na história da humanidade. Em cada época, a humanidade
vive tempos contínuos de transição que implicam em profundas mudanças sociais.
Na historiografia eurocêntrica, por exemplo, percebem-se mudanças que receberam
nomes diversos tais como, Idade da Pedra, Idade Antiga, Idade Média, Idade
Moderna e Idade Contemporânea. Nota-se, portanto, que os nomes atribuídos aos
períodos de tempo em foco, são oriundos do fato que eles apresentaram certas
características que implicaram em mudanças culturais significativas com
processos transicionais em relação ao período precedente. Eruditos como Michel
Maffesoli, sociólogo francês, conhecido sobretudo pela popularização do
conceito de tribo urbana, nas últimas décadas, perceberam mudanças
significativas na estrutura da sociedade, as quais chamaram de pós-modernidade.
Ademais, percebe-se que a perspectiva pós-moderna molda cada vez mais a nossa
sociedade. Segundo Maffesoli, “O que faz a cultura é a opinião, o pensamento do
espaço público, que constituem o cimento emocional da socialidade. ”
(MAFFESOLI, 2006). Neste sentido, a pós-modernidade, é uma cultura que tendo
emergido nas últimas décadas estabelece uma visão de verdade distinta da época
precedente. Ela, portanto, é compreendida como uma estrutura sociocultural
caracterizada pela globalização e pelo sistema capitalista e nela,
verificaram-se consideráveis mudanças. Logo, a consciência pós-moderna implica
necessariamente num tipo radical de pluralismo e relativismo. Deste modo, ela
constitui uma ruptura em relação às suposições do passado moderno que a
precedeu. Charles Jenks, um destes escritores mais antigos que procurou definir
a pós-modernidade, afirmou que,
O pós-modernismo é fundamentalmente, a mistura
eclética de uma tradição qualquer com a tradição do passado imediato: é, a um
só tempo, a continuação do modernismo e sua transcendência. Suas melhores obras
têm como característica a duplicidade de códigos e a ironia, a padronização de
um amplo espectro de opções, o conflito e a descontinuidade das tradições,
porque é a heterogeneidade que capta com maior clareza nosso pluralismo.
(JENKS, 1989)
Ademais,
outras questões relevantes puderam ser percebidas no contexto da sociedade
pós-moderna, tais como o foco social mudado do indivíduo para a comunidade, ou
seja, a tribo urbana em que o indivíduo está inserido passa a ter o foco
principal. Já no contexto do conhecimento, a mudança se deu passando-se da
verdade objetiva para a subjetiva, na qual se deu mais espaço culturalmente às
questões subjetivas e a subjetividade. Por outro lado, passou-se na
pós-modernidade da primazia das palavras para a importância fundamental das sensações
produzidas pelas imagens, nas quais se observa a prioridade da imagem em
relação ao texto. Além disso, percebeu-se uma mudança contextual da
meta-narrativa do período precedente para momento de prevalência da
micronarrativa. Deste modo, os pós-modernistas, sentem-se bem confortáveis em
suas produções sociais ao misturarem questões tradicionalmente incompatíveis.
Pós-modernidade, portanto, foi o termo utilizado para definir e explicar o
comportamento social da contemporaneidade.
Por
outro lado, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, após ter mergulhado nas
questões referentes a pós modernidade, abandonou este conceito, preferindo a
utilização do termo “modernidade liquida” para explicar estas mudanças
profundas em diversas áreas da sociedade seja no campo sociológico ou
filosófico. O termo modernidade liquida está associado metaforicamente ao fato
que os líquidos não possuem forma e podem deslizar facilmente de um canto para
outro num certo recipiente. Eles se amoldam a todo e qualquer ambiente em que
estiverem colocados, logo, esta condição traz a ideia metafórica de adaptação
constante no que concerne a vida humana nos seus mais diversos aspectos. Ao ser
entrevistado em Educação e Juventude Bauman afirmou que:
Um
espectro paira sobre os cidadãos do mundo líquido-moderno em todos os seus
esforços e criações: o espectro da superfluidez. A modernidade líquida é uma
civilização do excesso, da redundância, do dejeto e do seu descarte. (Bauman,
2013).
A
modernidade liquida, portanto, é uma expressão metafórica usada para descrever
os tempos atuais. Refere-se ao fato que os líquidos não têm formas e se moldam
a forma do recipiente. Neste sentido, Bauman, descreve as transformações
sociais pelas quais a sociedade contemporânea tem passado nos mais diversos
aspectos da vida, apresentando as consequências nos relacionamentos humanos por
meio da metáfora de um mundo “fluido e liquidificado” em contraposição à
modernidade sólida e estática do período precedente. Trata-se de um tempo de
transformações sociais aceleradas, de desapego ao passado e da provisoriedade
das coisas. Da individualização e do desprendimento das redes de pertencimento
e da tribalização social. Percebem-se, nestes tempos líquidos, relacionamentos
voláteis e fluidos como manifestação da liberdade individual. E, como
consequência desta individualidade própria da vida liquida, depressão, solidão
e individualismo.
Em
seu livro “modernidade liquida”, Bauman analisou a sociedade em suas relações
sociais desde quando começou a modernidade até os dias de hoje. Ele dividiu a
modernidade em duas fases, a saber: a modernidade sólida e liquida. Na
modernidade sólida, as mudanças eram ordenadas, previsíveis e estáveis. Porém,
houve um processo de transição no qual os Estados perderam influência frente ao
papel das empresas transnacionais, ou seja, o poder de influenciar que era
predominantemente do Estado passou a ser compartilhado com as empresas
multinacionais.
O
surgimento da internet pressionou a humanidade e aquiesceu-lhe trazendo-lhe
mudanças impressionantes, as quais, obrigaram a sociedade no caminho da
velocidade da informação e da fluidez. Logo, a globalização trouxe um estado de
coisas fluido no qual mudanças e incertezas passaram a caracterizar o mundo
liquido em que a sociedade estaria inserida. A visão metafórica da modernidade
liquida pressupõe que tudo se dissolve e se desfaz no caminho e pode tomar
qualquer forma. Neste sentido, observa-se um novo contexto em que valores,
crenças e tradições tornam-se mutáveis e voláteis. As coisas rígidas e sólidas
do passado não fazem mais sentido num mundo liquido e volátil. As perguntas a
serem respondidas são diferentes das que se faziam anteriormente, logo, não se
produzem respostas para o passado mas para o agora e então.
A
vida na modernidade liquida, portanto, se percebe fluida. A velocidade de
informação disponível trazida a todos os cantos pela internet e o acesso a
informação cada vez maior a um maior número de pessoas proporcionaram excessos
informacionais que requerem um continuado processo de atualização e revisão de
conteúdos com novas informações que, constantemente, atualizam os conhecimentos
a partir de novas perspectivas. Segundo Bauman, uma das características
fundamentais deste tempo é capacidade de aprender e descartar o que se aprendeu
selecionando o que deve seguir no processo de conhecimento e atualização do que
se conheceu. Para ele, “aprender depressa, é a capacidade de esquecer
instantaneamente o que foi aprendido antes”. (Bauman, 2013). Portanto, pode-se
depreender das palavras dele que o descarte de informações se faz necessário
diante da quantidade, da velocidade e das novas perspectivas informacionais.
Assim, afirma ele: "mudar de ideia ou revogar decisões anteriores é algo
que deve ocorrer no processo sem remorsos nem reconsiderações”. (Bauman, 2013)
Entretanto,
sabe-se que, mesmo diante da liquidez social em que a contemporaneidade vive, o
único propósito invariável da educação era, é e continuará a ser a preparação
dos educandos para a vida segundo as realidades que invariavelmente enfrentarão
no decorrer da caminhada. Portanto, o ensino, neste sentido, precisa ser de
conhecimento prático, concreto e imediatamente aplicável, de tal maneira que
seja provocativo devendo produzir no educando uma mentalidade crítica, aberta
as novas concepções que se forem forjando através dos novos tempos e que se
fizerem necessárias no decorrer da caminha educacional. Ademais, o que se
espera e se requer de um educador num contexto como este é que ele seja um
contínuo aprendiz, capaz de atualizar-se sempre para que possa obter os
melhores resultados acadêmicos nas vidas de seus alunos. Ainda que, em sua
carreira profissional, tenha que lidar com as questões implícitas advindas do
sistema de capital.
1.2.1 A
necessidade de atualização constante dos professores e os desafios enfrentados
na era da Modernidade Liquida.
Quanto
ao processo de graduação no mundo liquido, percebe-se nitidamente a necessidade
de uma formação continuada, tendo em vista que cada vez mais as quantidades de
informação disponível sobre determinados assuntos se multiplicam e os saberes
docentes exigem um processo contínuo de adequação e desenvolvimento pessoal por
parte do educador.
[...] o saber dos professores não é um conjunto
de conteúdos cognitivos definidos de uma vez por todas, mas um processo em
construção ao longo de uma carreira profissional na qual o professor aprende
progressivamente a dominar seu ambiente de trabalho, ao mesmo tempo em que se
insere nele e o interioriza por meio de regras de ação que se tornam parte integrante
de sua ‘consciência prática’. (Tardif, 2012, p. 14).
Logo,
já não se pode achar ou mesmo esperar que o simples fato de adquirir uma
formação acadêmica de nível superior seja suficiente, pois diante de um mundo
cada vez mais diversificado é essencial ter-se múltiplas formações a fim de
que, por meio destas novas competências adquiridas, se possa sobreviver e
desenvolver no mercado de trabalho cada vez mais competitivo, conectado e
volátil, sujeito à múltiplas mudanças e ao humor do mercado financeiro. Sobre
este ponto, o professor John Kotter, da Harvard Business School, citado por
Bauman, advertiu aos seus leitores dizendo que "os conceitos empresariais,
produtos, projetos, inteligência rival, meios de produção e todos os tipos de
conhecimento têm períodos de vida útil mais curtos". (Bauman, 2013). No
entanto, sabe-se que a formação continuada de professores é um processo de
aprendizagem e aprimoramento profissional ao longo da carreira docente. Essa
formação envolve a atualização de conhecimentos, habilidades e competências,
visando melhorar a prática pedagógica e acompanhar as demandas e transformações
educacionais no seio da sociedade.
A
contemporaneidade, ou seja, a cultura emergente intitulada de modernidade
liquida, é repleta de transformações. Mudanças constantes que afetam todas as
esferas da vida. De fato, é impressionante a quantidade de transformações
ocorridas na sociedade nestes últimos anos. Isso pode ser verificado facilmente
por meio dos avanços tecnológicos. Portanto, na contemporaneidade referida, o
papel do professor é supervisionar o conhecimento do educando e orientar os
acessos, não mais como um detentor exclusivo do conhecimento, mas como um
intermediador, instrumentalizador, no qual o educando pode se espelhar como
referência e adquirir estimulo na seleção de múltiplos conhecimentos. O
escritor Rubem Alves, propôs em entrevista uma teoria para explicar o papel do
professor dizendo que “ele não ensina nada”, pois o conhecimento está
totalmente disponível nos livros, na internet, nos vídeos. Segundo ele, o real
papel do professor, seria “estimular o gosto do aluno pelos estudos”. É a
teoria do espanto, na qual o aluno sente-se entusiasmadamente curioso em
aprender através de processos de descobertas guiadas, supervisionadas e estimuladas
pelo professor, o qual teria como papel principal aguçar a curiosidade do
aluno. (ALVES, 2012). A proposta de Alves era da educação dos sentidos. Ele
tentava equacionar as questões existenciais e políticas vinculadas ao processo
educacional, seguindo seu próprio caminho a partir do pensamento crítico de
Paulo Freire e Demerval Saviani.
Bauman,
por sua vez, propõe que a aprendizagem nos dias atuas poderia ser comparada
metaforicamente a misseis inteligentes os quais seriam preparados para aprender
durante o percurso até encontrar o alvo, o qual não é mais fixo, pois está em
constante movimento. Compreende-se que, diferentemente dos mísseis balísticos,
que foram muito bem-sucedidos noutro tempo, os mísseis inteligentes são bem
mais adequados aos dias atuais diante das demandas militares cada vez mais
sofisticadas e alvos não mais estáticos. Isto serve como modelo para
compreensão do significado da aprendizagem na modernidade liquida. A
aprendizagem, portanto, deve ser um processo contínuo em que educadores e
educandos o tempo todo adquirem novos conteúdos que precisarão aprender,
reaprender, descartar e desconsiderar, rumo a novas e surpreendentes
descobertas. Ademais, para Saviani,
A compreensão desse saber relaciona-se ao
entendimento de condições sócio históricas que determinam a tarefa educativa.
De acordo com essa concepção, o docente precisa apreender que, por meio da
Educação, os alunos serão integrados à vida na sociedade a que pertencem, e
essa inserção representa o papel ativo de cidadão. Portanto, o docente
necessita ter a compreensão da dinâmica da sociedade, as transformações que
nela acontecem e suas características. (SAVIANI, D., 1996)
Percebe-se,
no entanto que, nestes tempos líquidos, o próprio processo educacional não mais
é algo sólido e estático, mas algo moldável no qual a rigidez passada não
encontra mais sucesso como na cultura anterior que a precedeu. Deste modo,
percebeu-se que a aprendizagem na modernidade liquida, ocorre num contexto em
que prevalece, segundo Bauman, a civilização do excesso, da redundância, do
dejeto e do seu descarte. ” (Bauman, 2013). Logo, a educação ao longo da vida,
deve ser continuada, em virtude do fato que a massa de conhecimentos
disponíveis sobre determinados assuntos duplica-se a cada 5 anos. Por essa razão,
o professor que para de crescer hoje, invariavelmente será descartável amanhã.
Ademais,
há muitas dificuldades educacionais neste mundo líquido. E com isso, nota-se
claramente, que a velocidade de informação tecnológica tem produzido cada vez
mais a criação de cursos de rápida duração e isto produz como resultado uma
baixa qualidade no nível acadêmico das formações na intenção de formar
rapidamente novos educadores que acabam sendo produzidos com baixa qualidade
profissional. Este fato leva a uma contradição, pois sabe-se que educação e
imediatismo são termos contraditórios entre si, e, de fato, não há como
aprofundar-se conhecimentos sem, contudo, gastar-se tempo considerável,
disciplinado e diligente nesta empreitada. Este é um dos graves problemas da
educação nestes tempos de imediatismo. Deseja-se os resultados, sem, contudo,
gastar-se tempo com qualidade e diligência na produção deles. A sociedade vive
a cultura do imediatismo e isto tem sido prejudicial para a educação, desde que
não se pode conseguir as duas coisas ao mesmo tempo.
O
propósito da educação, no entanto, é preparar os educandos para a vida segundo
as realidades que eles terão que enfrentar no caminho e isso de acordo com as
suas preferências com o apoio supervisionado do educador. Logo, o educador tem
um papel social preponderante no processo educacional. Na verdade, ele tem um
papel revolucionário, pois ele deve ser capaz de produzir sobre a vida do
educando, o encaixe perfeito nas muitas partes do processo de ensino
aprendizagem. Neste sentido, deve-se observar com cuidado os critérios de
criação de cursos para não se correr o risco de produzi-los apenas com cunho
comercial, ou seja, com a finalidade última de se obter lucro, afetando a
qualidade do ensino e deixando como legado um resultado deficitário na
aprendizagem do aluno que seja prejudicial no processo educacional como um
todo.
1.2.2 Novas
abordagens e ferramentas na formação continuada de professores.
A
modernidade líquida trouxe mudanças significativas na sociedade, como a rápida
difusão do conhecimento e a informatização de diversos setores. Isso afetou
diretamente a forma como os professores adquirem e compartilham conhecimento.
Deste modo, o advento da internet trouxe consigo uma série de oportunidades e
desafios os quais, demandam necessariamente, o seu uso com bom senso, para
assim poder vir a fazer toda diferença no processo educacional. A utilização
das tecnologias com bom senso, significa dizer que, o educador, por vezes, terá
que considerar que o uso excessivo da tecnologia poderá trazer um
enfraquecimento da aprendizagem no sentido que o aluno pode vir a utilizar do
recurso tecnológico em lugar de realizar tarefas simples do cotidiano
educacional, ou seja, a leitura de uma dada informação para a compreensão e
absorção do sentido, além de, é claro, com isso, ter uma perda substancial da
capacidade de reflexão e mentalidade crítica sobre um determinado assunto em
disciplinas que se requer maior capacidade de análise e reflexão críticas. No
entanto, o que se pode observar facilmente em classes nos níveis básicos da
educação brasileira, é uma considerável perda por parte dos alunos da
capacidade de ler, escrever e interpretar o sentido de textos simples.
Observa-se, principalmente nos círculos particulares da educação básica, uma
grande quantidade de uso de recursos tecnológicos, muitas vezes exigidos por
parte dos alunos, ao mesmo tempo em que se verifica uma considerável perda de
profundidade acadêmica. O docente, portanto, deve compreender com isso que, seu
papel na educação, é e continuará sendo, preparar os jovens para a vida segundo
as realidades que tenderão a enfrentar. Retomamos o pensamento de Bauman,
considerando que, para tanto, eles precisão de conhecimento prático, concreto e
imediatamente aplicável. ” (BAUMAN, 2013). O uso de novas tecnologias, no
entanto, não foge a esta regra e deve produzir cidadãos capazes de refletir com
uma mentalidade crítica acerca das questões fundamentais a sua volta para o
exercício pleno da cidadania.
Não
resta dúvida que a utilização de recursos tecnológicos e as novas formas de
comunicação social podem ser utilizadas de maneira a poderem contribuir com o
processo educacional. Entretanto, dever-se evitar os excessos e o mau uso
destes recursos. As redes sociais, por exemplo, proporcionam espaços
interessantíssimos de compartilhamento de ideias e recursos entre os
professores, permitindo a troca de experiências e o acesso a conteúdos
relevantes. Entretanto, o seu mau uso pode interferir drasticamente no
desenvolvimento acadêmico.
Na
era líquida, a atualização constante é essencial e se faz necessária para os
professores, pois o conhecimento nesta nova era se torna obsoleto rapidamente.
Os profissionais da educação precisam se manter atualizados para atender às
demandas de um mundo em constante mudança. Plataformas de ensino online
oferecem oportunidades de aprendizagem flexíveis e acessíveis, permitindo que
os professores se atualizem em seu próprio ritmo. O fato concreto é que as
oportunidades são interessantíssimas e os professores deve aproveitar e
consolidar o ensino-aprendizagem de tal forma que os resultados sejam
verificáveis.
Os
professores, no entanto, enfrentam desafios adicionais nesta era líquida,
dentre os quais pode-se destacar a questão de como lidar com a sobrecarga de informações
existentes e disponíveis para uso imediato em suas aulas. Esta é uma questão
relevante que demandará do professor sabedoria para escolher dentre as tantas
informações, aquelas as quais ele deve mencionar, as que deve de fato ensinar e
as que apenas precisa omitir. Assim, o triangulo mencionar, ensinar, omitir,
deve ser uma tônica comum no trabalho docente destes templos “fluidos”. Outro
problema considerável nestes dias de superfluidez é a questão de como enfrentar
a resistência à mudanças, visivelmente encontradas nos círculos acadêmicos,
diante do fato que em momentos transicionais a resistência as mudanças causam
uma série de problemas que colocam o professor diante de dificuldades muitas
vezes insolúveis momentaneamente, as quais consomem muita energia e tempo do
trabalho docente, levando o professor a ter que recuar diante de demandas
reprimidas ou incompreendidas. E, por fim, uma questão por vezes fundamental e
altamente relevante no dia a dia da sala de aula para a tarefa docente que é a
questão de como encontrar maneiras eficazes de integrar as novas tecnologias em
sala de aula. Isto, tendo em vista o fato da complexidade da sala de aula com
as suas múltiplas variantes educacionais oriundas não só das dificuldades
impostas pela aprendizagem, mas surgidas do contexto social pós-pandêmico da
covid 19.
CONCLUSÃO
A
modernidade líquida é um conceito criado pelo sociólogo Zygmunt Bauman para
descrever a sociedade contemporânea, caracterizada pela fluidez e
instabilidade. Nessa era líquida, as relações e estruturas sociais são
voláteis, o conhecimento é mutável e as ideias são efêmeras. Logo, o professor
precisará se adequar aos novos tempos para que possa realizar um tipo de
trabalho que seja bem-sucedido.
Ademais,
a modernidade líquida traz desafios únicos para a formação continuada de
professores. No entanto, também abre oportunidades para o desenvolvimento de
abordagens inovadoras e o uso de tecnologias educacionais. Adaptar-se a esse
contexto fluido é fundamental para garantir uma educação de qualidade e
preparar os alunos para um futuro em constante transformação.
Além
disso, compreender e se adaptar à modernidade líquida na formação continuada de
professores é essencial para manter a relevância e a qualidade do ensino. Os
professores que abraçam as mudanças e utilizam as novas abordagens e
ferramentas têm mais chances de preparar os alunos para os desafios do século
XXI.
Nestes
tempos líquidos, todos os tipos de conhecimento têm períodos de vida útil mais
curtos, logo, tona-se necessária uma revisão constante dos materiais e das
formações docentes para a obtenção de novas perspectivas que lancem luz para a
solução dos novos problemas que surgem na mesma velocidade que outros
desaparecem por entrarem em desuso e se tornarem desnecessários. Sobre isto,
Bauman afirmou Educação e Juventude:
Um
espectro paira sobre os cidadãos do mundo líquido-moderno e todos os seus
esforços e criações: o espectro da superfluidez. A modernidade líquida é uma
civilização do excesso, da redundância, do dejeto e do seu descarte. (BAUMAN,
2013)
Assim
se conclui que num mundo liquido como este somos todos compelidos a assumir a
vida pouco a pouco, tal como ela nos vem, esperando que cada fragmento seja
diferente dos anteriores, exigindo novos conhecimentos, perspectivas e
habilidades que devem ser utilizadas ou descartadas à medida que se tornem
necessárias ou desnecessárias.
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[1]
Almir de Souza Cruz é licenciado em História e Bacharel em Direito.
Pós-graduado em História da Igreja e da Teologia. Pós-graduando em Ciências
Humanas e Mestrando em Educação, Cultura e Subjetividade. Além de possuir bacharelado
em Teologia Livre e MASTER MINISTRY em Teologia Livre.
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