4 de janeiro de 2011

John Wesley e o dinheiro – parte 2

Poucos sabem que Wesley ganhou somas elevadas na pregação e que a venda de suas obras o tornou um dos homens mais ricos da Inglaterra.

A maioria das pessoas sabe que João Wesley foi usado por Deus no reavivamento que deu origem à igreja Metodista, na Inglaterra do século 18. Sabemos que era grande pregador e possuía o dom da organização. Lembramos dele pela contribuição ao pensamento da igreja sobre santificação. Mas poucos sabem que Wesley ganhou somas elevadas na pregação e que a venda de suas obras o tornou um dos homens mais ricos da Inglaterra. Não é surpresa, então, saber que ele tinha opiniões bem firmadas sobre o papel das questões financeiras na vida cristã. O pregador “rico” tem muito a dizer sobre o dinheiro.
Por que o reavivamento está demorando?
No fim da vida, Wesley ficou desanimado com o metodismo. Embora tivesse visto o movimento começar com dois irmãos e chegar a uma sociedade de quase um milhão de pessoas, sentia que o grupo perdera muito do poder espiritual. Acreditava que os metodistas não tinham fome e sede de justiça como no início. Notou que não ansiavam pelos cultos das 5 horas da manhã como antes. Temia que os seguidores tivessem perdido grande parte do amor ao próximo, pois via que não estavam mais tão prontos a visitar os enfermos e necessitados. Convenceu-se de que esse declínio do amor a Deus e ao próximo havia ofendido o Espírito Santo de Deus, que se afastara deles. Temia que o trabalho de toda sua vida tivesse sido em vão.
Além de achar que Deus havia abandonado os metodistas, Wesley acreditava saber a causa: um pecado específico os levara a perder o primeiro amor e os afastara de Deus. Wesley afirmou que não havia um metodista em cada cem que obedecesse a Deus nesse aspecto. Reclamou que ninguém mais pregava contra esse pecado e, no fim da vida, pregou muito contra ele. Nos três últimos anos de sua vida, publicou tantos sermões denunciando esse pecado quanto havia publicado nos cinqüenta anos anteriores. Naquele que acreditava que seria seu último sermão, censurou seus seguidores pela desobediência ao Senhor nessa área. Chegou a dizer aos metodistas de Dublin que eles tinham responsabilidade pessoal pelo declínio do metodismo. “Vocês são alguns dos principais homens que ofendem continuamente o Espírito Santo de Deus e, em grande medida, impedem que sua influência cheia de graça caia sobre nossas reuniões”.
O que os homens de Dublin haviam feito para merecer tal repreensão? Qual foi o crime dos metodistas de Londres, Manchester e Bristol, a quem Wesley condenou? Qual o pecado que o convenceu de que Deus os havia abandonado e que ele considerava estar impedindo o avivamento?
O amor ao dinheiro

Wesley notou que no início do metodismo as pessoas eram pobres. Porém, observou que nos 20, 30 ou 40 anos desde que se uniram ao movimento, muitos se tornaram 20, 30 e até 100 vezes mais ricos. Com o aumento da riqueza diminuíra a santidade. Aos olhos dele, quanto mais dinheiro os metodistas tinham, menos amavam ao Senhor.
Wesley notou várias manifestações de diminuição da piedade nos metodistas. A primeira foi o enfraquecimento do amor a Deus, demonstrado pela falta de interesse na santificação. Disse que não tinham mais “o mesmo desejo intenso de antes para ‘prosseguir para a perfeição’”. A segunda manifestação foi orgulho. Wesley advertiu seus seguidores de que a crescente riqueza os deixara arrogantes. Passaram a confiar mais em suas próprias opiniões e se tornaram menos dispostos a ouvir reprovações: “Vocês não são mais dispostos a aprender como eram... possuem opinião muito superior sobre seu próprio discernimento e se apegam mais à sua própria vontade” (trechos do sermão Causas da ineficácia do Cristianismo).
Outro sinal do retrocesso era que os metodistas não eram mais tão mansos. No passado, Wesley havia dito: “seu amor não foi forçado, mas os capacitou a vencerem o mal com o bem em todas as ocasiões”. Mas agora: “Como vocês se irritam depressa!”. A indicação seguinte da morte espiritual era a falta de prontidão para ajudar os pobres. Wesley fez os ouvintes recordarem: “Naquela época vocês se apressavam – sob frio, chuva, ou qualquer empecilho que cruzasse seu caminho – para ver os pobres, os doentes, os aflitos”. Agora, entretanto, ele pergunta: “Você não tem medo de estragar seu casaco de seda?... Não tem medo de pegar piolho?”.
A última prova de como os metodistas haviam decaído era a negligência no evangelismo pessoal. Wesley agora se via forçado a perguntar a seguidores que antes conversavam espontaneamente com as pessoas sobre a situação da alma: “Mas qual de vocês possui agora aquela compaixão pelos ignorantes e pelos que se encontram fora do caminho? Eles podem vagar e mergulhar no lago de fogo sem que vocês se importem nem impeçam. Antes Deus possuía o coração de vocês”
·.
Uma palavra que Wesley detestava

Em geral, pensamos que Wesley não detestava nada. Ele é aquele que sempre pregava sobre amor a Deus e ao próximo. Chegou a ensinar que o amor de Deus pode encher tanto o coração das pessoas que elas se tornam capazes de amar a Ele e ao próximo com perfeição. Mas havia uma expressão que ele detestava e dizia que era “indolente”, “absurda”, “estúpida”, “miserável”, “vil” e “diabólica”. Afirmou que ela era “a própria linguagem do inferno”. Obviamente, nenhum cristão deveria jamais usá-la. Essa expressão terrivelmente maligna era “posso pagar”.
Wesley pregava contra a extravagância na alimentação, nas roupas ou no estilo de vida e o metodista respondia: “Mas eu posso pagar”. Wesley afirmava que nenhum cristão podia pagar nada além das necessidades mínimas da vida e do trabalho. Baseava seu raciocínio em cinco pontos principais:

1. Deus é a fonte do dinheiro do cristão. Ninguém ganha dinheiro por sua própria esperteza ou por trabalhar muito. Deus é quem concede energia e inteligência. É a verdadeira fonte de toda riqueza. Wesley indagou a certos metodistas que acreditavam ter direito a um padrão de vida mais alto agora que podiam pagar por isso: “Quem lhe deu esse acréscimo de riqueza, ou (para falar da forma correta) quem lhe emprestou?” (trecho de Sobre o perigo do crescimento da riqueza).
2. Os cristãos têm de prestar contas ao Senhor pela forma como usaram o dinheiro. Wesley aconselhava as pessoas a sempre usarem o dinheiro com sabedoria, porque a qualquer hora poderiam ter de prestar contas ao Senhor pelo que haviam feito com a riqueza que Ele lhes dera. Como ninguém sabe quando a prestação de contas vai acontecer ninguém deve desperdiçar agora pretendendo compensar mais tarde. “Quanto tempo você ainda vai ficar aqui?”, perguntava Wesley aos que se sentiam livres para gastar consigo mesmos. “E se amanhã, ou hoje à noite, você for convocado a se levantar e partir, para prestar contas desse e de todos os seus outros talentos ao Juiz dos vivos e mortos?”
3. Os cristãos são depositários do dinheiro do Senhor. O dinheiro que Deus colocou em nossas mãos não é nosso, é dele. Não o possuímos, antes, somos agentes do Senhor para distribuir. Assim, não podemos usar como queremos, mas sim como ele orienta. Wesley relembrou essa verdade aos ouvintes perguntando: “Algum mordomo pode gastar o dinheiro do patrão para ser um viajante desocupado? Pode desperdiçar os bens do patrão? Algum servo pode gastar o dinheiro do Senhor de forma diferente daquela que o Senhor determinou?” (trecho de Causas da ineficácia do Cristianismo). 4. Deus dá dinheiro aos cristãos para que eles dêem aos que precisam. O propósito de Deus ao nos dar dinheiro é ajudarmos os pobres e necessitados. Usar conosco mesmos é roubar de Deus. Wesley confrontou alguns metodistas satisfeitos: “Vocês não sabem que Deus lhes confiou esse dinheiro (tudo que ultrapassar o necessário para sustentar a família) para alimentar os famintos, vestir os nus, ajudar os forasteiros, as viúvas e os órfãos; e, até onde for possível, aliviar as carências de toda a humanidade? Como vocês podem como ousam, roubar do Senhor, aplicando esse dinheiro em outros propósitos?” (trecho do sermão Sobre o perigo do crescimento da riqueza).5. Os cristãos não têm direito de comprar luxo para eles mesmos, assim como não podem jogar o dinheiro fora. Deus nos tornou depositários dos recursos dele para alimentarmos os famintos e vestirmos os nus em nome dele. Devemos transformar o dinheiro extra em roupa e alimento para os pobres. Assim como é errado estragar a comida e as roupas dos outros, assim também é errado gastar o dinheiro conosco mesmo em coisas de que não precisamos. Wesley falou: “Ninguém tem direito de jogar fora alimentos e roupas que lhe foram entregues para alimentar os famintos e vestir os nus”. Mas se estivermos mesmo decididos a gastar o dinheiro de Deus, Wesley defendia que era melhor jogar no mar do que gastar de forma extravagante. Pelo menos, quando jogado no mar, não prejudica ninguém, enquanto que usado conosco mesmos em gastos desnecessários envenena todos que vêem isso com “orgulho, vaidade, ira, luxúria, amor ao mundo e mil desejos tolos e prejudiciais” (trecho de Sobre a roupa).
Wesley sentia que o metodismo havia perdido o poder espiritual porque os metodistas haviam enriquecido. Pregou muitas vezes contra os pecados dos prósperos, como o desejo de alcançar riquezas e o uso errado do dinheiro. Censurou especificamente contra os excessos na comida, no vestuário e no estilo de vida. No entanto, não se limitou a condenar o emprego errado do dinheiro. Além disso, apresentou aos ouvintes orientações bíblicas claras sobre o jeito certo de usar os recursos financeiros.
“Embora seu estúdio não fosse exatamente a imagem da pobreza ascética, Wesley não levou a vida de abundância e luxos que se espera de um homem com sua renda e situação. Ele queria deixar apenas “meus livros depois que eu morrer...”.

O exemplo de Wesley

Wesley pregou uma riqueza de palavras sobre o dinheiro. Tinha muitas idéias sobre as aplicações certas e erradas dos recursos. E, sendo um dos homens de renda mais elevada na Inglaterra em sua época, teve oportunidade de praticar o que pregava. Muitos podiam ignorar seus sermões, mas ninguém podia ignorar a forma como ele usava o dinheiro que recebia. O que ele pregava com atos falava mais alto do que suas palavras.
Quando Wesley morreu, o único dinheiro que apareceu em seu testamento foi a grande variedade de moedas que encontraram com ele e em seus guardados. Havia doado a maior parte do dinheiro que ganhou em toda a sua vida. Como ele falou: “Não tenho como evitar deixar meus livros quando Deus me
chamar; mas em todos os outros aspectos, minhas próprias mãos executarão meu testamento”.
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1 Comentários:

Às 22 de maio de 2015 às 00:01 , Blogger Leandro de Moraes Medina disse...

Excelente texto pastor Almir. Wesley foi um lindo exemplo do que é ser um cristão genuíno ao exemplo da igreja primitiva. Abraço!

 

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