29 de novembro de 2022

 A História da igreja primitiva: a igreja do primeiro século e sua expansão.

O surgimento da Igreja

Os primeiros anos da igreja podem ser considerados fundamentais para a sua história, pois foi a ocasião em que a ela solidificou os seus escritos deixando um legado inestimável para toda a posteridade eclesiástica. Podemos ver no livro de Atos, nas epístolas e nos evangelhos, além, é claro, de vermos no livro de apocalipse, uma quantidade significativa de informações que são extremamente necessárias e importantes para àqueles que buscam uma compreensão do período originário da igreja. Segundo Cairns entende, por exemplo, “Os focos do livro de Atos são a ressurreição de Cristo, como o assunto da pregação apostólica, e o Espírito Santo, como Capacitador e Guia da comunidade cristã a partir do Pentecoste. ” (CAIRNS, 1995.)

O livro de atos é, portanto, um livro muito importante para a história da igreja primitiva, pois logo no seu início, no segundo capítulo nos relata a origem da igreja após a ressurreição e ascensão de Jesus Cristo quando houve o sermão do apóstolo Pedro no dia de Pentecostes após o derramamento do Espírito Santo. Ocasião em que aquelas pessoas receberam o Espírito e falaram em outras línguas, isto é, outros idiomas, de maneira tal que os ouvintes que ali estiveram puderam presenciar o fato de “ouvirem as grandezas de Deus em suas próprias línguas maternas”. Portanto, o livro de atos nos mostra a fundação da igreja e a expansão de suas comunidades primitivas e de seu ideário por meio da divulgação dos ensinamentos cristãos. Nesta mesma direção Nichols afirmou que que desde então, “a Igreja Cristã, como uma comunidade destinada a dar testemunho de Cristo, vem proclamando o Evangelho e edificando o Reino de Deus na terra. ” (NICHOLS, 2000.)

Outra coisa que merece destaque no início de tudo é o fato de a igreja ter sido perseguida justamente no lugar onde ela começou, a saber, em Jerusalém. Os primeiros anos da igreja em Jerusalém foram de destaque até que veio a perseguição e a fez expandir-se na direção de outras nações até se espalhar pelo mundo através da pregação dos apóstolos, especialmente do apostolo Paulo em suas viagens missionárias também descritas no livro de Atos. Deste modo, a igreja primitiva surge e se expande pelo mundo antigo por meio do trabalho abnegado de muitos cristãos anônimos que junto com os demais apóstolos de Cristo e, segundo sua orientação doutrinária, desenvolveram o que viria a ser a igreja primitiva. É importante frisar que no processo de estabelecimento da igreja, há tarefas primordiais no que concerne a sua expansão e desenvolvimento. Segundo concluiu Gonzalez,

A primeira tarefa do cristianismo – e a mais importante – foi definir sua própria natureza em contraste com o judaísmo do qual surgiu. Como se vê no Novo Testamento, boa parte do contexto em que essa definição foi feita consistia na missão aos gentios. (Gonzalez, 2011.)

No entanto, o centro primitivo da igreja foi Jerusalém e, como já se pôde perceber anteriormente, o Império Romano havia criado um ambiente político favorável para a propagação do cristianismo nos primórdios de sua existência. Ou seja, a construção de estradas, as experiências acumuladas da história antiga na navegação, a expansão do comércio, a pax romana e uma série de outros fatores importantes que contribuíram para o florescimento da igreja em seus primórdios. Segundo Gonzalez afirma “desde bem cedo a igreja começou a abrir caminhos muito além dos limites do Judaísmo, a ponto de, sem demora, tornar-se uma igreja com maioria gentia. ” (Gonzalez, 2011.)

Ainda de acordo com o livro de atos, logo no seu primeiro capítulo, vê-se que o Espírito Santo teve um papel preponderante após a ascensão de Cristo ao céu. E já no segundo capítulo do livro somos informados da descida do Espírito Santo descrevendo o início da igreja a partir do sermão do apóstolo Pedro. A igreja se expandiu pelo mundo romano no primeiro século e a importância dos apóstolos foi fundamental como instrumentos nas mãos de Deus para a fundamentação doutrinária da igreja. Neste sentido, percebe-se que o crescimento da igreja foi rápido após o primeiro número de três mil convertidos. Logo a seguir havia chegado facilmente de acordo com o relato escriturístico a um número de cinco mil pessoas conforme o capitulo quatro de Atos, além da menção facilmente verificada no capítulo cinco de um crescimento significativo com o acréscimo de multidões ao âmbito da igreja de Cristo. Segundo Cairns afirma,  

“Parece paradoxal que o principal centro de inimizade contra Cristo tenha sido a cidade onde a religião começou. Mas esta é a realidade. Do ano 30 a aproximadamente 44, a igreja em Jerusalém manteve uma posição de liderança na comunidade cristã primitiva. ” (CAIRNS, 1995.)

Deste modo, o crescimento foi rápido, mas também a vida não foi fácil para os primeiros irmãos na fé, pois a perseguição veio com força logo na sua origem.

 

A perseguição da Igreja

Segundo se pode perceber dos relatos bíblicos em Atos, o Sinédrio foi o primeiro órgão político a perseguir a igreja. Ele tinha permissão romana para tal feito e supervisionava os aspectos mais relevantes da vida civil e religiosa do povo. Logo no capítulo doze de Atos ficamos sabendo da morte de Tiago e da prisão de Pedro sob o comando de Herodes. A seguir vemos a morte de Estevão servindo ele mesmo como uma espécie de primeiro mártir, fato este noticiado perante todos e de extrema importância para expansão do cristianismo. Neste sentido, sabe-se que os cristãos sofreram a princípio com uma espécie de perseguição no formato de ostracismo social, mas logo se tornou uma espécie de perseguição mais robusta a partir do imperador Nero, o qual perseguiu a igreja e matava os cristãos. E sabido de todos que ele supostamente teria colocado fogo na cidade de Roma e depois teria culpado os cristãos. Deste modo, os cristãos passavam a ser odiados, acusados de ateus por não praticarem a religião romana condenando os costumes dos pagãos no politeísmo grosseiro daqueles dias. Neste ponto Nichols afirma,

A partir de Nero (54 a 68 d.C.), o governo romano começou a hostilizar o Cristianismo, tentando eliminá-lo cruel e vigorosamente. Essa perseguição variava de intensidade conforme quem estivesse no poder. (NICHOLS, 2000)

De fato, Nero foi uma pessoa nefasta. Um insano! Um homem muito malvado com os cristãos, um grande perseguidor dos crentes primitivos. Sabemos que os cristãos sofreram uma perseguição atroz. Lançados às feras serviam de escarnio para um mundo cheio de expectadores que se divertiam assistindo os animais devorarem violentamente os corpos dos cristãos.

                https://aventurasnahistoria.uol.com.br

   Entretanto, a perseguição também se tornou um fator preponderante, como se pode perceber facilmente nas páginas do livro de Atos, para que a igreja nascente pudesse se espalhar e espalhar a sua mensagem por outras partes do mundo. Neste sentido, afirma Nichols,

A perseguição foi o meio pelo qual a Igreja nascente chegou a uma compreensão mais segura do Evangelho que Jesus lhe dera a pregar, e por ela alcançou uma visão mais ampla da obra que Jesus lhe propusera. (NICHOLS, 2000)

Foi um tempo em que os cristãos sofreram muito nas mãos de seus inimigos e essa perseguição vinha do poder oficial. Esse tempo é conhecido como um período em que houve muitos mártires, líderes anônimos e os apóstolos como Paulo, Pedro e os demais apóstolos que foram coroados como mártires.

 https://www.elevados.com.br/artigo/520/morrer-por-cristo:-os-martires-da-igreja-primitiva.html

Sendo assim, percebe-se que a perseguição teve um papel didático para a construção teológica da igreja e contribuiu também para que a ela ultrapassasse os limites das fronteiras de Jerusalém onde nascera expandindo-se pelo mundo romano vindo a se tornar mais adiante numa igreja imperial.

 

A Expansão da igreja

A expansão da igreja se deu por toda a vastidão do Império Romano. Sabe-se das Escrituras Sagradas que o apóstolo Paulo fez viagens conhecidas como missionárias as quais foram estratégicas para a expansão da igreja nascente pelo mundo romano também entre os gentios.

 https://www.a12.com/redacaoa12/historia-da-igreja/viagens-missionarias-de-sao-paulo-apostolo

Paulo é chamado de apóstolo aos gentios, pois foi por meio dele que o evangelho e boa parte dos escritos do Novo Testamento foram escritos e espalhados por todo o mundo nos arredores do Mar Mediterrâneo. Neste ponto, afirma Nichols,

O Cristianismo espalhou-se, de sorte que, por volta do ano 100 d.C., havia igrejas em inúmeras cidades da Ásia Menor e em muitos lugares da Palestina, Síria, Macedônia e Grécia, em Roma e Puteoli, na Itália, em Alexandria, e, provavelmente, na Espanha. (NICHOLS, 2000)

A igreja primitiva era uma comunidade pequena de cristãos rodeada de toda sorte de pagãos com suas práticas religiosas politeístas. Eram na maioria pessoas pobres, muito embora houvesse também pessoas mais abastadas entre eles. Contudo, o cristianismo lhes igualava e os mantinha em pé de igualdade. Escravos, senhores e mulheres atingiam posição de honra nos pequenos grupos de cristãos daqueles dias. Eles eram pessoas conhecidas como fervorosas e destacadas no que concerne à moralidade no meio social. O fato é que o politeísmo era amplamente imoral em suas práticas religiosas e os cristãos, por sua vez, faziam exatamente o contrário em suas práticas, ou seja, viviam naquele contexto fazendo um contraponto moral às práticas dos politeístas.

De Jerusalém, conforme Jesus Cristo afirmou, para toda Judeia, Samaria e Galileia e até os confins da terra. Assim a igreja de Cristo se espalhou pelo mundo. O livro de atos mostra a morte de Estevam diante da presença de Saulo que veio a se tornar o grande apostolo Paulo após a sua conversão, o qual se encarregou de liderar as missões cristãs e espalhar igrejas pelo império romano. Ele, de Antioquia da Síria, Atos 13.1-3, local onde fora escolhido ao lado de Barnabé para fazer a primeira de três viagens missionárias relatadas no livro de atos, espalhou igrejas pelo mundo antigo dominado pelo Império Romano. Vemos neste contexto a igreja já em Antioquia da Síria, local em que “os discípulos de Cristo foram chamados pela primeira vez de cristãos”. O fato é que a igreja primitiva, após o concílio de Jerusalém, passou a se desvencilhar dos domínios da igreja em Jerusalém. Conforme se pode verificar ela passa a abrir caminhos além das suas fronteiras. Foi o que afirmou Nichols quando disse em seu livro sobre a História a Igreja Cristã:

A decisão tomada no Concílio em Jerusalém, de que os gentios não eram obrigados a obedecer a lei, abriu caminho para a emancipação espiritual das igrejas gentílicas do controle judaico. (NICHOLS, 2000)

Portanto, não seria uma igreja judaica, isto é, de práticas judaicas, mas uma igreja puramente cristã. Ou seja, uma igreja que basearia suas práticas a partir dos ensinamentos dos apóstolos. Logo, o cristianismo se espalhou pelo mundo antigo e consolidou sua doutrina com os ensinamentos vindos dele mesmo e dos apóstolos que estiveram com ele em seu ministério. Desta forma, a fé primitiva baseada nas doutrinas dos apóstolos norteou toda prática cristã e se fortaleceu em meio a perseguição que estes primeiros cristãos sofreram naqueles dias. Novos lugres, novos líderes e assim a igreja se espalhava pelo mundo. Sobre este tempo, afirma ainda Nichols,

A liderança espiritual da Igreja Cristã se centralizou, então, em outras cidades, especialmente em Antioquia. Isto evitou o perigo de que o cristianismo jamais se libertasse dos quadros do judaísmo.

 Foi assim que a igreja se libertou do judaísmo tornando-se a segunda religião monoteísta do planeta com discurso próprio oriundo do judaísmo, mas distinta dele. O fato é que os judeus rejeitaram Jesus rejeitando o “Evangelho do Reino”[1]. O Rei foi rejeitado, o Messias não foi reconhecido. Entretanto, o plano de Deus continuaria por meio do “Evangelho da Graça”[2] e todos os que seriam salvos pelo mundo seriam salvos por meio deste discurso apresentado pela igreja aos homens do mundo inteiro. Deus continuaria amando o mundo e este amor revelado em Cristo seria apresentado ao mundo inteiro por meio de seus discípulos. Os evangelhos e as cartas foram sendo escritos durante primeiro século e um compendio de livros próprios chamados de Novo Testamento foram sendo produzidos como um centro de tradição que nutriria o cristianismo e fundamentaria e nortearia as suas ações.

Ao final do primeiro século encontramos os escritos do apóstolo João, ou seja, o Evangelho, as suas três cartas e o livro de apocalipse. Escritos estes produzidos com o fim de preservar as verdades ensinadas por Cristo por meio de uma testemunha ocular contra toda sorte de ensinamentos heréticos que se espalharam pelo mundo antigo. João, o apóstolo, teve um papel importante na igreja e preservaria as tradições cristãs contra uma espécie de proto-gnosticismo[3] que já assolava a igreja durante o primeiro século. Logo, seus escritos contribuiriam muito para que a igreja se mantivesse pura na verdade dos fatos transcorridos e firme na crença de que Cristo é o Filho de Deus que veio ao mundo, morreu e ressuscitou para a salvação de todo aquele que crê no evangelho da graça. (Jo. 3.16)

 

A vida em comum dos cristãos da primitiva Igreja

A vida comum da comunidade de discípulos na igreja primitiva trouxe uma das características mais marcantes da igreja cristã, a saber:  o serviço social. Isto mesmo, coube a igreja primitiva o papel fundamental de assistir aos pobres. Viúvas e órfãos em especial padeciam de toda sorte de necessidades, logo, ao chegarem a igreja eram atendidos de modo que a igreja acabou por criar um sistema de atendimento que, por meio de reuniões diárias, na expectativa da volta de Jesus, eles compartilhavam seus bens enquanto compartilhavam os relatos acerca de quando Jesus esteve por três anos entre eles, o que realizou, como viveu sem pecado, esperançosos de sua volta a qualquer momento ainda naqueles dias do primeiro século.

  https://www.esbocosermao.com/2011/02/vida-crista-na-igreja-primitiva.html

Deste modo, ficamos sabendo que houve logo no início da igreja primitiva, por meio da criação do ministério dos diáconos, conforme atos 6, o tipo de serviço de Deus no meio comunitário que promovia a igreja e apoiava os apóstolos numa situação favorável ministerialmente para que eles pudessem se dedicar ao estudo das Escrituras Sagradas, a pregação e o ensino da palavra de Deus e a atividade de espalhar a mensagem do evangelho de Jerusalém para o mundo, enquanto os diáconos cuidavam das demais necessidades entre eles. Sobre este ponto, Gonzalez afirma que,

A criação de um grupo de homens para tomar conta das necessidades foi outro acontecimento de relevância social ocorrido ainda nos primeiros anos do nascimento da Igreja. A caridade deveria ser administrada por diáconos. (Gonzalez, 2011.)

Com isso os apóstolos ficavam livres para o exercício da oração e do estudo da Palavra de Deus como prioridade no papel de sua liderança espiritual primeva. Algumas passagens no livro de atos sugerem e confirmam que haviam práticas sociais bem no início da igreja, pois “todos os que creram estavam juntos, tinham tudo em comum, vendiam suas coisas e repartiam os haveres entre os demais irmãos”. (Atos 2.44). Contudo, não se deve esquecer que este tipo de feito é temporário, é provisório, apenas para suprir demandas emergenciais, servindo apenas para satisfazer as necessidades imediatas dos irmãos da comunidade inicial de cristãos em Jerusalém. Pode se perceber que a medida que a igreja crescia cresciam as necessidades dos pobres que estavam reunidos em comunhão com todas as suas mazelas e o serviço diaconal ao que tudo indica foi bastante utilizado como manifestação de cuidado dos pobres. Mais tarde, no entanto, vemos na história da igreja primitiva o apostolo Paulo levantando a coleta de uma oferta para ajudar os irmãos pobres em Jerusalém que estavam passando por necessidades. O apóstolo Paulo prescreve regras para o cuidado das viúvas ao escrever a sua primeira carta a Timóteo 5.3-16. Neste texto o apóstolo prescreve as ações adequadas para o trato com as pessoas que realmente tinham reais necessidades na igreja primitiva evitando assim os comportamentos levianos e aproveitadores das “tagarelas e intrigantes” no meio do grupo. Ele também destaca no o contexto a importância de os familiares atenderem as necessidades das viúvas primeiramente a fim de que a igreja não ficasse sobrecarregada. Segundo ele, “Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente. ” Vemos com isso, portanto, que o cristianismo da igreja primitiva promoveu uma certa mudança social no estado de coisas daqueles dias e na forma como se viam os pobres que adentravam a igreja e começavam a fazer parte dela com todas as suas necessidades sendo amados e ajudados naquela koinonia[4]. Um grande alerta para nós em nossos dias está implícito nesta afirmação, a saber: a igreja não o ignorava os pobres.

O primeiro livro do Novo Testamento, Tiago, foi que primeiro afirmou que “a religião pura e sem mácula para com o nosso Deus era cuidar dos órfãos e das viúvas cuidando também de guardar uma moralidade sadia em relação ao mundo politeísta profundamente depravado daqueles dias mantendo-se incontaminado dele. Outro detalhe importante da igreja nascente naqueles dias foi a atenção especial em termos de igualdade que a igreja de Jerusalém deu para o papel e a importância da mulher na igreja. Sabemos das Escrituras Sagradas que as mulheres tiveram um papel importante no ministério de nosso Senhor Jesus Cristo, e de igual modo, também tiveram um papel fundamental no ministério eclesiástico missionário durante os dias primitivos da igreja. González, em sua história ilustrada do Cristianismo, afirma que “A igreja de Jerusalém insistiu sobre a igualdade espiritual dos sexos e deu muita importância às mulheres na igreja”. (Gonzalez, 2011.) De modo que, homens, mulheres, pobres, ricos, crianças e adultos, judeus e gentios, isto é, pessoas de toda sorte, passaram a fazer parte da igreja e puderam aprender das grandezas de Deus através dos ensinamentos dos apóstolos neste processo lento e gradativo de crescimento e expansão da igreja primitiva. E, por meio desta vida em comum dos primeiros cristãos que sofreram e foram ultrajados com toda sorte de perseguições, a igreja se espalhou e ficou conhecida por meio da vida de homens comuns que, transformados pelo evangelho, puderam sair pelo mundo espalhando a mensagem de Cristo e estabelecendo igrejas por onde quer que estivessem indo. Este modelo de igreja trouxe para nós desde o princípio um legado que de tempos em tempos na história será revisitado com o intuito de reorientar a igreja e seus destinos. De fato, a igreja primitiva será a base para todos movimentos reformadores, como a reforma protestante, os reformadores radicais, os puritanos e todos aqueles movimentos cristãos que se propuseram a reviver os ideais neotestamentários na história. Sendo assim, sempre que a igreja precisa de uma reforma ela a buscará no modelo de pureza e santidade deixado pelos apóstolos como saúde para a igreja de todos os tempos.

Portanto, pode se inferir deste conteúdo sobre a igreja primitiva apresentado nas asseverações acima que, o início da igreja foi em Jerusalém no dia de Pentecostes. Esta primeira igreja recebeu de seu Senhor após a sua ressurreição a missão de espalhar-se pelo mundo pregando o evangelho da graça e estabelecendo igrejas locais, o que de fato aconteceu nas localidades estratégicas de toda vastidão do Império Romano. Ou seja, as pessoas iam se espalhando pelo império levando a mensagem e compartilhando o testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo aos homens. Assim a igreja, mesmo em meio a perseguição, se estabeleceu, cresceu e se fortaleceu historicamente desenvolvendo e espalhando a sua influência. Contudo, a vida na Igreja primitiva era simples, as pessoas se relacionavam em pé de igualdade, homens, mulheres, escravos, livres, gentios e judeus. Gente de todo tipo, todos na igreja aprendendo a servir e a amar assim como Jesus amou. O Culto na Igreja na igreja também era simples. Não havia estrutura patrimonial sofisticada. A simplicidade implicava em se reunir para ler as Escrituras, orar e cantar canções. Portanto, desde a sua mais tenra idade o culto da igreja era de comunhão, adoração, instrução e oração. A Crença da Igreja, por sua vez, se desenvolveu com o tempo por meio de sua literatura baseada no testemunho dos discípulos próximos de Cristo, testemunhas oculares dos fatos ocorridos durante os dias de Jesus aqui na terra. Além disso, deve-se notar também que o Governo da Igreja primitiva era congregacional com pastores e diáconos escolhidos para servir como oficiais da igreja.

 

BIBLIOGRAFIA  

 

CAIRNS, Earle C. O Cristianismo através dos Séculos: uma história da Igreja cristã. 3ed. São Paulo: Vida Nova, 2009.

 

FERREIRA, FranklinA Igreja cristã na história. São Paulo, 2013.

 

GONzalez, Justo. História Ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 2011.

 

NICHOLS, Robert Hastings História da Igreja Cristã. 11ª ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000.

 

WALKER, Wiliston. História da igreja cristã. Tradutor: Paulo Siepierski. 4ª ed. São Paulo: ASTE, 2015.

 

WILLIAMS, Terri. Cronologia da História Eclesiástica em Gráficos. Tradução de Paulo Siepierski. São Paulo, Edições Vida Nova, 1993.

 



[1] Evangelho do Reino foi aquele apresentado por Jesus em que Ele, como Rei, estabeleceria o seu Reino na terra sendo recebido pelos seus. Mas os judeus não o reconheceram e o rejeitaram.

[2] Evangelho segundo o qual Jesus, Messias Judeu, veio ao mundo, morreu e ressuscitou tornando-se a base da mensagem do Evangelho para a salvação de todos os homens.

[3] Gnosticismo – O gnosticismo é um conjunto de correntes filosófico-religiosas sincréticas oriundas da região do mediterrâneo durante os séculos I e II d.C., alicerçado em interpretações de relatos bíblicos e apócrifos pelo viés filosófico médio-platônico e de cultos de mistérios greco-romanos e orientais.

[4] Koinonia é uma palavra de origem grega e significa “comunhão”. Este termo se tornou muito comum entre os cristãos, sendo utilizado no sentido de companheirismo, participação, compartilhamento e contribuição com o próximo e com Deus.

5 de novembro de 2022

O surgimento do Cristianismo dentro do contexto do mundo greco-romano.

https://www.infoescola.com/historia/cristianismo-no-imperio-romano/
                                                                                                                                     pastor Almir Cruz

É comum entre os historiadores da igreja como Nichols, Gonzalez, Cairns, dentre outros, discorrer a respeito da importância do mundo greco-romano e judaico como pano de fundo histórico para a “plenitude dos tempos” no que concerne aos fatores preponderantes para o início da história da igreja. Podemos observar que foram muitas as contribuições de povos oriundos dos arredores da região do Mar Mediterrâneo para que se chegasse a este tempo de plenitude a fim de que emergisse da parte de Deus com todos os seus feitos notáveis o que viria a ser chamado de Cristianismo, religião que se expandiria pelo mundo antigo chegando até os nossos dias como uma das mais importantes religiões do mundo.

O Cristianismo primitivo trouxe as bases necessárias, isto é, os fundamentos necessários, que sustentariam toda a história da igreja. Segundo Gonzalez entende, “O Cristianismo surgiu num mundo que já tinha suas próprias religiões, culturas e estruturas políticas e sociais. ” (GONZALEZ, 2011) Deste modo, esta chamada “plenitude dos tempos” obteve bom êxito quando Deus o Pai por meio de sua ação providencial estabeleceu todos os meios necessários para que o Evangelho pudesse se expandir pelo mundo antigo. Segundo está implícito nesta expressão e facilmente se pode verificar, a vinda do perfeito filho de Deus se deu justamente no ápice da história antiga. Esta foi a ocasião em que no mundo antigo, todo acúmulo de conhecimentos, de culturas, e de domínios puderam se materializar no poderoso império romano. Na verdade, há três povos que merecem destaque especial nesta tarefa de criar um mundo ideal para o surgimento do cristianismo, a saber: gregos, romanos e judeus. Juntamente com tantos outros historiadores a igreja, sobre a importância destes povos afirmou Nichols “Cada um, no seu tempo, pela Providência divina, criou as condições da sociedade em que o Cristianismo apareceu realizando as suas primeiras conquistas. (Nichols, 2000). Tendo dito isto, observemos um pouco sobre cada um destes povos para compreensão do que se pretende sustentar.

1.    Os gregos

 

https://www.sohistoria.com.br/ef2/grecia/p2.php

 

Com séculos de reflexões filosóficas e a expansão da cultura helenista por meio de Alexandre, o Grande, os gregos espalharam sua influência em todos os seus domínios. Sabe-se que Alexandre foi um vencedor nato e que superou todo o mundo civilizado de sua época, logo, nos dias de Alexandre, os judeus eram parte de seus domínios e receberam forte influência do helenismo. Segundo Gonzalez afirma:

O Judaísmo da Palestina já não era aquele que conhecemos pelos livros do Antigo Testamento. Mais de trezentos anos antes de Cristo, Alexandre Magno tinha um vasto império que se estendia da Grécia ao Egito e até as fronteiras da Índia, o qual, portanto, abrangia toda a Palestina. Uma das consequências dessas conquistas foi o “helenismo”, nome que se dá à tendência de combinar a cultura grega, que Alexandre tinha trazido, com as culturas antigas de cada uma das terras conquistadas. (GONZALEZ, 2011.)

 

Esta influência foi tal que, mesmo depois da morte de Alexandre, quando alguns dos seus sucessores mantiveram boa parte dos seus domínios, e ainda, após terem sido vencidos os seus sucessores pelos romanos, conseguiram deixar sua marca indelével na cultura deste novo império nos séculos subsequentes. De fato, entende Gonzalez,

Quando morreu Alexandre, alguns dos seus sucessores mantiveram controle sobre a Síria e a Palestina. Contra eles se rebelaram os judeus sob o comando dos Macabeus, conseguindo um breve período de independência, até que os romanos conquistaram o país em 63 a.C., Portanto, quando Jesus nasceu, a Palestina fazia parte do Império romano. (GONZALEZ, 2011.)

 

O fato é que os gregos trouxeram uma contribuição fundamental para o mundo antigo deixando um grande legado cultural que pode ser visto principalmente através da filosofia, especialmente por meio dos seus mais destacados filósofos clássicos, a saber: Sócrates, Platão e Aristóteles.

http://www.liceufilosofia.com.br/2016/08/socrates-platao-e-aristoteles.html

Sabemos de historiadores da igreja como Cairns, que “a filosofia grega preparou o caminho para a vinda do Cristianismo por ter levado a destruição as antigas religiões”. (CAIRNS, 1995). Outra área de significativa importância para o Cristianismo primitivo foi a língua grega, língua esta, fundamental para a escrita do Novo Testamento inteiro. Sim. Sabe-se que todos os livros que o Cristianismo adotou no Novo Testamento foram escritos em língua grega. Esta era a língua comercial que prevaleceu naqueles dias.

   http://bibliaemgrego.blogspot.com/2010/03/

Um tipo de língua importante que acabou por se tonar, juntamente com a língua hebraica, um grande instrumento nas mãos de Deus para a expansão do seu conhecimento na terra. Segundo afirma Nichols, os gregos trouxeram uma grande contribuição para a igreja por meio da sua língua comum.

 

Os gregos fizeram outra contribuição importante ao preparo do mundo para o advento do Cristianismo, disseminando a língua em que língua mais este seria pregado ao gênero humano pela primeira vez. Uma prova da extensão e da influência do grego vê-se no fato de que a língua falada nos países situados às margens do Mediterrâneo era o dialeto grego conhecido por KOINÊ ou dialeto "comum". (NICHOLS, 2000)

 

Ou seja, um idioma precioso capaz de deixar várias pérolas que hoje em dia os estudantes e professores de bíblia desfrutam garimpando das páginas das Sagradas Escrituras a revelação de Deus para a edificação de seus leitores. E isto deve nos levar a mesma percepção que Cairns quando disse em seu livro que “o Evangelho universal precisava de uma língua universal para poder exercer um impacto real sobre o mundo”. Deste modo, pode-se notar que os gregos contribuíram com uma língua universal, com a filosofia clássica e uma religiosidade que, mesmo falida nos primeiros dias da igreja pôde ser utilizada por Paulo em sua estratégia evangelística entre os gregos quando esteve propondo a fundação e o estabelecimento de igrejas em Corinto, Atenas, Bereia e Tessalônica por exemplo, especialmente, como se pode verificar em seu discurso no areópago de Atenas conforme Atos 17.15-34. De fato, como firma Nichols,

 

O Cristianismo espalhou-se, de sorte que, por volta do ano 100 d.C., havia igrejas em inúmeras cidades da Ásia Menor e em muitos lugares da Palestina, Síria, Macedônia e Grécia, em Roma e Puteoli, na Itália, em Alexandria, e, provavelmente, na Espanha. (NICHOLS, 2000.)

2.    Os romanos

 

A história dos romanos também tem um papel relevante no que concerne a história da igreja, pois a formação deste povo, como já dissemos, envolve séculos de dominação com o acumulo de capital cultural oriundo de diversas nações e culturas subjugadas e absorvidas por eles. Deste modo, segundo afirma Nichols, “quando o Cristianismo surgiu, e durante os primeiros séculos de sua existência, os romanos eram os senhores do mundo. ” (NICHOLS, 2000.)

https://www.guiaestudo.com.br/roma-antiga

A história dos romanos pode ser subdividida em três partes básicas: a monarquia, a república e o império. Eles são um dos povos importantíssimos da antiguidade com séculos de atuação e o exercício de influência jamais visto na história humana. Sabe-se que, por sua extensão, os romanos trouxeram um sentido de unidade e desenvolvimento cultural jamais visto antes na história mundial. Isto foi muito importante para o Cristianismo, haja vista que os primeiros três séculos da era cristã mostram um grande desenvolvimento e expansão no território reconhecidamente romano. Portanto, os romanos e o império romano foram fundamentais para o Cristianismo nascente sendo que tiveram o maior e mais longevo império que já existiu na antiguidade. Neste ponto, os historiadores estão plenamente de acordo sobre tal asseveração, pois a unidade imposta pelo império em seus domínios trouxe as condições perfeitas e necessárias para uma expansão gigantesca do Cristianismo. Neste sentido, afirma Cairns,

Nenhum império do antigo Oriente Próximo, nem mesmo o império de Alexandre, tinha conseguido dar aos homens um sentido de unidade numa organização política. A unidade política seria a contribuição de Roma. (CAIRNS, 1995)

 Eles deixaram um legando gigantesco também no âmbito do Direito, da República e do Império Romano. No caso do Direito, por exemplo, sabe-se que o império romano impunha as leis a todos os povos dominados na extensão do seu território por intermédio das cortes romanas. Havia naqueles dias a cidadania romana e os privilégios jurídicos para quem a tivesse. O apóstolo Paulo, por exemplo, tinha sua cidadania romana e pode-se verificar facilmente no livro de Atos capítulo 22 que ele a usava conforme a sua necessidade ou até mesmo em circunstâncias adversas. Assim, como se pode perceber, os romanos foram muito importantes com suas leis para a totalidade dos seus domínios na manutenção da ordem.

http://www.laifi.com/laifi.php?id_laifi=5285&idC=79256#

Eles também construíram estradas em toda vastidão do império e por meio de um poderoso monitoramento trouxeram a pax romana que contribuiu muito para a segurança nas estradas por meio das quais os missionários cristãos puderam espalhar o Cristianismo pelo mundo daqueles dias no primeiro século. De fato, como afirma Nichols em sua obra de História da Igreja, a monitoramento das estradas trouxe segurança para os povos debaixo de seu domínio. Assim, houve um favorecimento impressionante para disseminação religiosa da religião que viria a ser a dominadora espiritual do mundo. Segundo ele entende,

As guerras entre as nações tornaram-se quase impossíveis sob a égide desse poderoso império. Essa paz entre os povos favoreceu extraordinariamente a disseminação, entre as nações, da religião que pretendia um domínio espiritual universal. (NICHOLS, 2000.)

A segurança nas estradas proporcionava um desenvolvimento significativo da economia do império. Logo, além de facilitar o deslocamento e escoamento de mercadorias, as estradas romanas também facilitavam as comunicações.

https://emroma.com/appia-antica/

Também pode-se perceber a importância das navegações com o agora controle romano do Mar Mediterrâneo para a expansão do Cristianismo. É o que vemos em atos no contexto das viagens missionárias de Paulo. Na verdade, graças ao grande comércio por meio das navegações, houve uma movimentação livre da qual fizeram parte os missionários cristãos com suas viagens evangelísticas através do Mar Mediterrâneo dominado pelo império romano por volta da segunda década depois de Cristo. Segundo nos informa Cairns em seu livro sobre a História do Cristianismo,

Com o aumento do poderio imperial romano, uma era de desenvolvimento pacífico ocorreu nos países ao redor do Mediterrâneo, Pompeu tinha varrido os piratas do Mediterrâneo e os soldados romanos mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa. (CAIRNS, 1995)

Portanto, o controle das rotas comerciais contribuiu para que houvesse uma certa facilidade para que missionários como o apóstolo Paulo conseguissem espalhar a mensagem por todo aquele vasto império. O papel do exército logicamente, era muito importante e fator fundamental de estabelecimento do poderio romano no mundo de então por meio dos cortejos vitoriosos dos generais romanos. E as estradas eram importantes porque davam acesso aos principais destinos do mundo civilizado. Sem dúvida era um momento especial na história da humanidade e os romanos foram fundamentais neste período com todos os aspectos aqui sugeridos para a expansão do Cristianismo.

Os séculos subsequentes revelaram ainda outras áreas em que o império romano teve grande destaque para o mundo e naturalmente para a igreja, pois além destas coisas já mencionadas, os romanos também contribuíram mais tarde no decorrer da história do Cristianismo com as edificações de sua arquitetura, pois a arquitetura romana influenciou em muito o estilo de construções eclesiásticas por meio das grandes catedrais com seus vitrais esplendorosos. Também, sabe-se que outro fator importante contribuiu para o Cristianismo. Trata-se da língua dos romanos, o latim, que logo cedo teve uma versão exclusiva da Bíblia por São Jerônimo, sendo esta versão a versão utilizada por toda época da conhecida Idade Média. Obviamente a língua é uma estrutura de dominação e esta foi a língua utilizada oficialmente mesmo depois com a queda do império romano e o advento dos bárbaros. Essa língua foi utilizada como exercício da influência e de dominação da parte do império por muito tempo na história da igreja católica para a expansão futura de seus domínios eclesiásticos.

 

3.    Os judeus

 

Outro povo que exerce uma forte influência sobre a história do cristianismo na “plenitude dos tempos” é o povo judeu. Eles foram os mordomos da verdadeira religião e por meio de que o Senhor trouxe a sua revelação aos homens. Logo no início de sua história a igreja, isto é, nos seus primórdios, ela teve que se desvencilhar dos aspectos religiosos do judaísmo. Conforme afirma Gonzalez, “O pano de fundo mais imediato da igreja nascente foi o Judaísmo.”  (GONZALEZ, 2011.) Sabe-se que o judaísmo tinha nas sinagogas os locais de encontros para cultos, estudos e aprendizagem da Torá. As sinagogas tiveram um papel importante no início do cristianismo, pois pode se perceber que o apóstolo Paulo, em suas viagens missionárias, se utilizava das sinagogas das grandes cidades como estratégia para compartilhar o evangelho primeiramente com os judeus em todos os lugares por onde ia, e somente depois de sofrer certa rejeição da parte dos seus patrícios, seguia em direção aos gentios com a exposição do Evangelho da Graça. De fato, a igreja primitiva deve muito ao judaísmo. Neste ponto, afirma Nichols,

Os judeus, como se tem dito com muito acerto, prepararam o "Berço do Cristianismo", fizeram os preparativos para o seu nascimento e o alimentaram na sua primeira infância. Prepararam antecipadamente a vida religiosa em que foram instruídos o próprio Senhor Jesus e todos os cristãos primitivos, inclusive os apóstolos e os primeiros missionários. (NICHOLS, 2000.)

https://www.bibliadeestudo.org/os-dez-mandamentos-de-Deus.html

 Assim, desta maneira, o judaísmo serviu para a igreja, como um professor até que ela chegasse a sua idade de consciência própria e maturidade na construção de seus próprios escritos a partir das inestimáveis contribuições e interpretações dos escritos judaicos.  Portanto, se pode afirmar juntamente com o historiador da igreja Cairns, que o judaísmo serviu como “o paidagogos para conduzir os homens à Cristo (Gl 3: 23-25). ” (CAIRNS, 1995.) Logo, a igreja tem uma relação muito estreita com o judaísmo durante o cristianismo primitivo, mas no decorrer do tempo precisou se desvencilhar dele. Isto, considerando também que os judeus, mesmo fragmentados em sua religião pelo tempo e pela sujeição aos gregos e romanos no decorrer dos séculos, puderam contribuir com o Velho Testamento, e na expectativa em torno da figura máxima de seu Messias, a saber, conforme creem os cristãos: Jesus de Nazaré, o filho de Deus, rejeitado, morto e sepultado, mas que ressuscitou ao terceiro dia. Sendo assim, pode se perceber que as profecias no Antigo Testamento apontavam para um futuro Messias e, certamente, o livro sagrado dos judeus foi o documento de onde veio esta ideia tão importante para os judeus, agora cumprida e revelada aos homens. Neste sentido pode se afirmar com Cairns que “o povo judeu, ademais, preparou o caminho para a vinda do Cristianismo ao legar à Igreja em formação um livro sagrado, o Velho Testamento. ” (CAIRNS, 1995.)

É importante ressaltar também que os judeus trouxeram como legado para o cristianismo o monoteísmo ético adquirido de um de seus mais importantes personagens, a saber: Moises. Contudo, a contribuição mais significativa dos judeus para o cristianismo está no fato de legarem as promessas do Velho Testamento a respeito de um Messias que viria a ser o seu principal expoente e, por meio de sua Ressurreição, o fundamento máximo da salvação cristã. O livro sagrado dos judeus, o qual para os cristãos é explicado e interpretado no Novo Testamento, compõe também o antigo testamento apreciado e explicado no Novo Testamento. Logo, se percebe que no início do Cristianismo tornou-se necessário um desvencilhamento do judaísmo fragmentado das influências do pós-helenismo para existir como religião propriamente dita.

 https://www.semprefamilia.com.br/blogs/acreditamosnoamor/15-imagens-dos-primeiros-seculos-do-cristianismo-retratando-jesus-e-os-apostolos/

          Conforme já foi observado anteriormente, os gregos tiveram forte influência sobre o passado dos povos sob os seus domínios. Por essa razão, o judaísmo havia passado por mudanças substanciais debaixo da influência do império de Alexandre, o Grande. Logo, já não era o judaísmo das páginas do Velho Testamento na Bíblia. Era um judaísmo helenizado. Segundo Gonzalez, “Uma das consequências dessas conquistas foi o “helenismo”, nome que se dá à tendência de combinar a cultura grega, que Alexandre tinha trazido, com as culturas antigas de cada uma das terras conquistadas. ” (GONZALEZ, 2011.) Deste modo, os judeus haviam sido fortemente marcados pelo helenismo.

Por fim, vale ressaltar que os judeus da diáspora[1] contribuíram muito com os elementos da religião judaica sendo espalhados em diversos locais do império romano. O fato é que onde esses judeus estivessem guardavam seus costumes religiosos, mantinham suas sinagogas e espalhavam sua fé ganhando muitos adeptos e conseguindo prosélitos em sua missão. Naturalmente, esses aspectos judaicos da expansão religiosa enquanto perseguidos como dispersos, também contribuíram como ideia base quando da expansão das missões cristãs conforme se pode verificar facilmente nas viagens missionárias de Paulo e sua equipe de missionários. Ali espalharam o monoteísmo ético comum ao judaísmo e cristianismo e influenciaram o mundo com suas crenças doutrinárias.

Vale ressaltar ainda que, apesar destes três povos mencionados anteriormente com seus legados culturais milenares terem trazido um impacto gigantesco para a existência do cristianismo nascente, pois como observaremos a expansão do cristianismo trouxe variações para esta religião. Não obstante, outros povos também contribuíram e se utilizaram do cristianismo praticado pela igreja no decorrer dos séculos para a perpetuação deles no poder. Portanto, não se pode negar que o cristianismo influenciou e foi influenciado pelas civilizações. Pode se verificar facilmente no decorrer da história que a religião é uma estrutura de poder e os religiosos estiveram ao lado dos poderosos ora legitimando, ora sendo legitimados na perpetuação do poder. Pois como disse Fernand Braudel[2], “o passado das civilizações nada mais é que a história dos empréstimos que elas fizeram umas às outras ao longo do tempo. ” Assim surge a igreja cristã na história e se espalha pelo mundo repleta de influências. Cheia de aspectos positivos e negativos a serem investigados no tempo e no espaço com respeito a um cristianismo nascido em Jerusalém e subjugado desde o império romano chegando até as últimas variações históricas dos nossos dias.

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA  

 

CAIRNS, Earle C. O Cristianismo através dos Séculos: uma história da Igreja cristã. 3ed. São Paulo: Vida Nova, 2009.

 

FERREIRA, FranklinA Igreja cristã na história. São Paulo, 2013.

 

GONzalez, Justo. História Ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 2011.

 

NICHOLS, Robert Hastings História da Igreja Cristã. 11ª ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000.

 

WALKER, Wiliston. História da igreja cristã. Tradutor: Paulo Siepierski. 4ª ed. São Paulo: ASTE, 2015.

 

WILLIAMS, Terri. Cronologia da História Eclesiástica em Gráficos. Tradução de Paulo Siepierski. São Paulo, Edições Vida Nova, 1993.

 

 

 

 



[1] JUDEUS DA DIÁSPORA: Trata-se dos judeus que foram espalhados em decorrência dos cativeiros que sofreram. Esses judeus podiam ser encontrados em quase todas as cidades do antigo mundo greco-romano.

[2] BRAUDEL, Fernand Gramática das Civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 1989. P. 29.