A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL DO SANTO

A pontuação não é inspirada, nem no moderno texto grego nem nas traduções em português. Os manuscritos mais antigos do Novo Testamento, que possuímos, não têm pontuação. A pontuação de Efésios 4:12 lança confusão no plano de Deus sobre a operação da Igreja, a saber, que de cada crente se espera que se atarefe em alguma forma de serviço cristão, conforme Deus possa orientá-lo, pois aquele sinal diacrítico dá a impressão que toda a responsabilidade é colocada sobre os ombros dos homens dotados, com os quais Deus porventura presenteie a Igreja, e nada requer dos santos para os quais aqueles homens ministram.                                                                        

Os homens a quem Deus outorgou dons especiais para ministrarem a Palavra, conforme verificamos no versículo onze, são os apóstolos, evangelistas e pastores mestres. A construção grega não permite que falemos de pastores e mestres como dois indivíduos diferentes nesta passagem. Ambas as designações se referem ao pastor, o qual também possui o dom de ensinar. Os dois dons são dados e são desempenhados paralelamente, pelo que se segue que um pastor chamado por Deus deve exercer um ministério didático. Isto é, sua principal tarefa deve ser ensinar a Palavra de Deus. O seu ministério consiste em explicar, em termos simples, o sentido da palavra de Deus. A palavra "pastor" que tem exatamente o mesmo sentido no grego, explica-se por si mesma. O pastor de uma igreja cristã deve manter a mesma relação para com a sua comunidade que um pastor de ovelhas mantém para com o seu rebanho.                                       

Voltando-nos para o versículo doze, encontramos que o vocábulo "aperfeiçoamento" não é tradução de um termo grego que indique maturidade espiritual, mas sim, de um termo cuja ideia significa a capacidade de alguém ou de alguma coisa para desempenhar o trabalho para o qual foi criado. A palavra "serviço" no original é a mesma que produziu, por transliteração, a nossa palavra "diácono". Isso não significa que apenas os diáconos estejam aqui em vista, pois seu sentido é "alguém que serve", o que aponta para qualquer serviço. A tradução completa do versículo seria: "E Ele mesmo deu os apóstolos, e os profetas, e os evangelistas, e os pastores mestres, para que os santos sejam capacitados para o serviço, o que resulta na edificação do Corpo de Cristo". Por meio desta tradução verifica-se que o pastor de uma igreja, por exemplo, é um especialista. Sua obra consiste em ensinar a Palavra aos santos, treinando-os para a arte de conquistar almas como também de ensinar e pregar a Palavra. Cada igreja deveria ser um Instituto Bíblico em miniatura, um centro de treinamento de onde pudessem sair os santos para propagarem o Evangelho. Dessa maneira o pastor multiplica sua vida. Ele possui um ministério para com os incrédulos, que é o de pregar-lhes o Evangelho, conquistando-os para o conhecimento da salvação no Senhor Jesus. Porém, seu principal trabalho é equipar os santos para fazerem essa obra. Visto que o pastor precisa especializar-se na obra do treinamento dos santos, segue-se que ele não pode gastar seu tempo e energia em mil e uma coisas no trabalho diversificado da igreja, o que poderia ser feito por seus membros. O pastor sábio é aquele que põe o povo a trabalhar, dedicando-se pessoalmente a uma vida de oração e de ensino da Palavra. Cada um de nós, crentes, deve ocupar-se nalguma forma de serviço cristão conforme o Senhor nos orientar. Pode ser o ministério da oração ou a distribuição de folhetos ou o trabalho de evangelização pessoal ou o ensino da Palavra ou a música cantada ou tocada. Assim, cada santo tem sua própria responsabilidade no serviço de nosso Senhor.

Jóias do Novo Testamento Grego, Kenneth S. Wuest - janeiro de 1996, Propriedade Literária da Moody Press, p. 32-34.