1 de dezembro de 2010

John Wesley e o dinheiro - parte 1


Eis a história e os conselhos de um homem que sabia como ganhar dinheiro... e como gastá-lo.

Por Charles Edward White

Na infância, Wesley conheceu a pobreza. Samuel, seu pai, era pároco anglicano em uma das paróquias que menos pagava na Inglaterra e tinha nove filhos para alimentar e vestir. John via sempre o pai endividado e uma vez o viu ser preso por causa de dívidas. Entretanto, embora tivesse seguido a vocação do pai, John não enfrentou a mesma pobreza. Em vez de se limitar a uma paróquia, sentiu a orientação de Deus para dar aulas na Universidade de Oxford. Foi eleito membro do Lincoln College e sua situação financeira mudou completamente. Passou a receber pelo menos 30 libras por ano - mais do que suficiente para sustentar um homem solteiro. Parece que ele apreciou sua relativa prosperidade enquanto dava aulas, e gastava o dinheiro jogando, fumando e bebendo. Um fato ocorrido em Oxford alterou sua perspectiva frente ao dinheiro. Ele havia acabado de comprar quadros para seu quarto quando uma das camareiras chegou à sua porta. Era inverno, e ele reparou que ela só tinha um vestido fino de linha para protegê-la do frio. Enfiou a mão no bolso para dar dinheiro para ela comprar um casaco e descobriu que sobrara muito pouco. Entendeu então que Deus não estava contente com a forma como ele gastava seu dinheiro. Perguntou a si mesmo:
“Será que teu Mestre dirá: 'Bem está, servo bom e fiel?' Adornaste tuas paredes com o dinheiro que poderia ter protegido essa pobre criatura do frio! Ó justiça! Ó misericórdia! Esses quadros são o sangue dessa pobre empregada'” (trecho de Sobre roupas).
Talvez como reflexo desse acontecimento, Wesley passou a limitar seus gastos, para ter dinheiro para dar aos pobres. Ele anotou em um ano que sua renda havia sido 30 libras, seus gastos para viver, 28 libras e, então, tinha 2 libras para doar. No ano seguinte a renda dobrou, mas ele gastou as mesmas 28, então pôde doar 32. No terceiro ano, a renda pulou para 90 libras. De novo, ele viveu com 28 e doou 62. No quarto ano, ganhou 120 libras, gastou 28 e deu 92 para os pobres.
Wesley pregava que os cristãos não deviam se limitar ao dízimo, mas sim dar toda renda extra depois de atender as necessidades da família e pagar os credores. Ele acreditava que, com o aumento de renda, o cristão deveria elevar seu padrão de doação, não seu padrão de vida. Mesmo quando a renda dele subiu para milhares de libras, ele continuou a viver em simplicidade e doava logo todo o dinheiro que sobrava. Em determinado ano, a renda dele foi um pouco maior do que 1.400 libras. Ele ficou com apenas 30 e doou todo o restante. Ele temia acumular tesouros na terra, de modo que o dinheiro ia para caridade assim que ele o recebia. Ele contou que nunca possuiu mais do que 100 libras ao mesmo tempo.
Entre as maneiras como Wesley limitava seus gastos estava a vida sem luxos e a identificação com os necessitados. Pregava que os cristãos deveriam se considerar pobres a quem Deus entregou dinheiro para ajudar. Colocava suas palavras em prática, vivendo e comendo com os pobres. Sob a liderança de Wesley, metodistas de Londres estabeleceram na cidade duas casas para abrigar viúvas. Eram sustentadas por ofertas levantadas nas reuniões e na Ceia do Senhor. Em 1748, Wesley morava nas mesmas acomodações, com qualquer outro ministro metodista que estivesse na cidade. Ele se alegrava por comer da mesma comida à mesma mesa, esperando ansioso pelo banquete celestial que todos os cristãos irão compartilhar.
João Wesley não se identificava com os pobres apenas compartilhando alimento, moradia e abrindo mão de luxos. Às vezes deixava de atender algumas de suas necessidades para doar o dinheiro. Durante quase quatro anos se alimentou basicamente de batatas. Isso não era para melhorar a saúde, mas também para poupar: - “O que eu economizo em minha carne irá alimentar alguém que não tem nada”.
Em 1744, Wesley escreveu: “[Quando eu morrer], se deixar dez libras... você e toda a humanidade [podem] testemunhar contra mim, que vivi e morri como ladrão e assaltante”. Quando ele morreu, em 1791, o único dinheiro citado em seu testamento foi a miscelânea de moedas encontradas em seus bolsos e gavetas. Havia doado a maior parte das 30 mil libras que ganhou em toda a sua vida.

Os conselhos de Wesley
E qual a orientação de Deus para os cristãos usarem seus recursos financeiros? Wesley apresentou quatro prioridades bíblicas:

1.Providencie tudo que for necessário para você e sua família (1 Timóteo 5.8). O crente deve assegurar que sua família tenha satisfeitas as necessidades e confortos, ou seja, “alimento suficiente e saudável para comer e roupas limpas para vestir”, assim como um lugar para morar. Deve ainda assegurar que a família tenha como viver caso aconteça alguma coisa com a pessoa que ganha o sustento.

2.“Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Timóteo 6.8). Como os cristãos decidem quanto gastar com eles mesmos e com a família? Qual é o limite? Wesley respondeu citando as palavras de Paulo a Timóteo. Acrescentou que a palavra traduzida como “vestir” significa literalmente “cobrir”, o que inclui residência além de roupas. E prossegue: “Segue-se, claramente, que tudo que ultrapassar isso é, aos olhos do apóstolo, riqueza. Ou seja, tudo o que vai além das necessidades básicas ou, no máximo, das conveniências. Qualquer pessoa que tiver o suficiente para comer, roupa para vestir, um lugar para deitar a cabeça e mais alguma coisa é rica” (trecho de O perigo da riqueza).

3.“Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos”; e “não devam nada a ninguém” (Romanos 12.17; 13.8). Wesley disse que a forma seguinte de gastar o dinheiro é pagar aos credores e acrescentou que os que possuem negócios próprios precisam de ferramentas, estoque ou capital adequados para fazerem o negócio prosperar.

4.“Enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gálatas 6.10). Depois que o cristão cuidou da família, dos credores e de seu negócio, a obrigação seguinte é usar todo o dinheiro que sobrar para atender as necessidades dos outros. Wesley ensinou que Deus dá dinheiro aos seus filhos para que eles atendam suas necessidades razoáveis e espera que, depois eles lhe devolvam o restante, dando aos pobres. Deus quer que todos os seus filhos se considerem “apenas um dos pobres, cujas carências foram supridas por parte da substância de Deus que Ele colocou nas mãos deles com essa finalidade”. Então, Deus irá perguntar:
“Foste um benfeitor da humanidade? Alimentaste os famintos, vestiste os despidos, confortaste os enfermos, ajudaste o estrangeiro, acalmaste os aflitos, segundo o que cada um necessitava? Foste olhos para o cego, pés para o aleijado? Pai para os órfãos e marido para as viúvas?” (trecho de O bom mordomo).

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Os crentes devem lembrar que são pobres a quem Deus entregou dinheiro para ajudar e que devem viver vidas sem luxos. Jonh Wesley (Personalidade Metodista)

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